2 de fevereiro de 2013

SINAIS

Ontem à noite, em silêncio, dentro do carro parado no sinal vermelho, avistei outro automóvel, que surgiu logo à frente, com a seguinte frase adesivada em seu vidro traseiro: 

"O pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é pouco (nada)."

Após a leitura, essas palavras simples inundaram meu ser, enquanto eu repetia internamente para não esquecê-las, como um mantra. Creio terem cabido esses dizeres a mim bem direitinho, pois ultimamente ando tão ansiosa por almejar tantas coisas, sem me aperceber do que já me circunda em abundância, que momento mais oportuno como este não encontraria para defrontar-me com aquilo. Não definiria esse sentimento do "menos é mais" como uma espécie de acomodação, e sim de contentamento, preenchimento do vazio existencial tão recorrente em nossa sociedade abstêmia da paciência. Uma busca desenfreada por estados traiçoeiros de pacificidade pode gerar desconforto quando faltar energia no momento em que esta, de fato, convier.

Em outra circunstância, poderia desdenhar daquelas letras coladas, até porque sempre me incomodei com frases-feitas adornando veículos, acho o cúmulo do mal-gosto. Placas de caminhão, tudo bem, são mais tradicionais e bastante criativas, contudo a questão aqui não é discutir se são meros acessórios démodés. Desde que me vi mais espiritualizada - e isto subentende-se como religada a uma força superior, não necessariamente a uma religião imposta -, tenho sido fisgada por sinais onipresentes que não deixo escapar. Comentei com minha mãe sobre o provérbio, o qual já conhecia, dizendo ela com a propriedade de quem já viveu muito, tratar-se de um dito velho. Se brega, chique ou obsoleto, não me interessava, mas sim se estava sendo aplicado divina ou devidamente. No fundo, parece ninguém estar contente, por isso diversas são as distrações que inventamos a fim de domesticar o ego. A minha ocupação tem sido a leitura e a escrita em suas múltiplas vertentes. Quando me vejo cheia de uma energia que não me cabe direito, começo a jorrar em expressividade. Por mais que não seja lida, a intenção maior aqui é administrar o equilíbrio, não apenas a vaidade. Reescrever os dias me proporciona criar vínculos com o tempo, tentando manter a ampulheta deitada formando um número 8, uma espécie de infinitude mágica na clausura desse corpo.

Estou lendo um livro sobre jornada espiritual. É como se estivesse sempre sentada com a espinha ereta, prestando atenção à minha respiração, na fluidez do sangue, no batimento dentro das veias. Enquanto leio, fecho os olhos interiores e faço como um iogue irlandês sugeriu: imagino o universo como uma imensa máquina giratória na qual queremos ficar perto do centro, no eixo da roda e não nas extremidades, porque ali os giros são mais violentos, expostos e se pode enlouquecer com isso. O eixo da calma fica no coração, onde Deus reside. Tenho plena consciência de que devemos parar de procurar as respostas no mundo ou nos outros seres e retornar a esse centro sempre que se quisermos encontrar a paz, em qualquer lugar. Não é mudando de casa que meus ares podem ficar mais despoluídos, até pode ajudar passar um período no miolo da natureza, afastada dessa poluição generalizada, mas antes devo estar despoluída em meus próprios canais. Quando abro as pestanas logo após essa religação, geralmente me harmonizo. Dói um tanto no começo, como quando tiro os óculos escuros estando de frente para o sol. Nada há que a temporalidade não possa curar, até as feridas proporcionadas por essa iluminação demasiada, caso eu estiver equivocada em relação à minha descoberta infinita. No fundo, lá dentro, eu sei que estou certa. Espero que isto sirva a quem estiver buscando a si.

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