10 de fevereiro de 2013

PROJECIOLOGIA

Quando se sonha com o céu cenográfico do Truman Show significa que a realidade se desdobra entre mundos paralelos? Então, certa noite, estive fora do corpo e fui conviver com seres de feição caucasiana, indígenas e extraterrestres. O meio de transporte utilizado era uma sonda marítima no formato de um projétil que, por vezes, alcançava a superfície com uma carga abundante de peixes prateados e de grande porte. A noção de tempo era completamente variável, podíamos passar duas tardes em um só dia ou noites com sol. Um sol agradável, o clima fresco, apesar da ausência de vento. Havia um conjunto residencial composto por casinhas de taipa bem simples, porém extremamente modernas por dentro, com cozinhas equipadas, todas em aço inox. Adentrei uma delas e conversei, sem dificuldades de ordem linguística, com um alemão que portava uma faca de serrinha como se fosse seu cartão de visitas. Devia ser cozinheiro. Era ranzinza, careca, magro, alto, usava camiseta regata e bermuda brancas. No início do contato, sentia um pouco de medo, devia ser por conta do objeto pontiagudo apontado em minha direção quase sempre. Logo, interpretei aquele utensílio doméstico como proteção, tal a espada de um guerreiro-guardião.

Freud, certamente, analisaria as implicações fálicas do meu sonho, por isso prefiro enfatizar o ponto de vista holístico de Jung no que compete à projeção astral. Um exemplo de simbolismo religioso ocorre no CandombléOxum é a orixá da beleza, do amor e da prosperidade, e em seu status de guerreira com ligação a Oxóssi, tradicionalmente, ela traz uma alfange (ou adaga) e um ofá (arco e flecha) simbólicos.

Havia muitas crianças, a maioria sempre próxima a mim, quase me cercando. Puxavam-me pelo braço para mostrar as coisas. Eram indiozinhos barulhentos e loirinhas que pareciam fadas, de tão leves. Brincavam entre borboletas gigantes. Um dos meninos, o mais hiperativo, chorava por querer que eu contasse as histórias do "meu planeta" em volta de uma fogueira, enquanto a mãe o forçava ir para a cama, dormir. Os adultos eram reservados, comedidos, alguns zelavam pelo local como se sentissem invadidos, já que eu era uma estranha no ninho. Aos poucos, tanto eu quanto os habitantes dali, íamos nos acostumando com a presença uns dos outros. Era uma rotina intensa, pois os via trabalhando, correndo de um lado a outro, carregando latas d'água nos ombros. Alguns detalhes foram apagados da memória ao acordar, mas acredito ter despertado quando me perdi entre vielas pouco iluminadas.

Nada como uma viagem astral para quem resolveu passar o carnaval em casa. Uma fuga dos burburinhos  existenciais com experiências espirituais também acrescentam. Deixarei os céticos acharem que tenho provado do ópio do divino ultimamente. 

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