25 de fevereiro de 2013

CHECK-UP

A ansiedade badalava dentro da caixa torácica. Após um Ecocardiograma com Doppler ter acusado uma suspeita de aneurisma entre o coração e o esôfago, o cardiologista solicitou um Eco Transesofágico (ETE), tipo de procedimento endoscópico invasivo, com a finalidade de precisar melhor o que tem se passado em meus órgãos internos. Tentei desligar os fios de alta tensão dos pensamentos antes que um curto-circuito de medo me carbonizasse inteira. O exame estava marcado para as 15h20, depois foi antecipado para as 15h. Primeiramente, haviam me solicitado jejuar por cerca de 6 horas, em seguida, as atendentes atarantadas do hospital alteraram para 9 horas o tempo em que ficaria sem me alimentar nem beber água. Soube ainda que haviam feito confusão, pois era para eu ter comido pela derradeira vez às 9 da manhã. De todo modo, fiz a última refeição por volta das 4 da madrugada de domingo para segunda.

À tarde, meu pai me acompanhou até a clínica, fomos de táxi. O motorista era um senhorzinho baixo, que emitia uns sons que não entendíamos direito, enquanto o trânsito nos atrasava. Lá chegando, fiz os procedimentos burocráticos na recepção, quando descobri que a pré-senha que havia solicitado na sede do plano de saúde tinha sido gerada em código errado por uma mocinha intransigente (vide postagem anterior). Passei as minhas digitais no laser repetidas vezes, até que uma mulher corpulenta com semblante triste, de nome Ruth no crachá, resolveu o problema. Peguei meus documentos de volta e aguardei ser chamada, enquanto explicava o mal-entendido, ou melhor, o mal-atendimento ao meu pai, que se indignava a cada instante, embora nossas conversas sobre a vida e o dia a dia tenham sido edificantes ali, pois dificilmente passava um bom tempo a sós em sua agradável companhia. Senti-me orgulhosa ao vê-lo ajudar uma velhinha com labirintite, levando-a pelo braço até uma sala de cirurgia. Observava as pessoas que entravam e saíam para tentar me distrair um pouco, também estudava a decoração do local, com Nossa Senhora em um suporte de parede lateral e Jesus crucificado bem à frente da porta principal, fazendo jus ao martírio daqueles pacientes. Na TV, passava um filme indigesto estrelado por um astro da música sertaneja. Nojo. Folheei o jornal, que faltava a maioria das páginas.

Esperei três horas para ser atendida, o que me fez prolongar um jejum desnecessário por 13 horas. Pasme! Já estava verde, branca, amarela e desesperada. Meu pai tomou minhas dores e, gentilmente, foi até a enfermeira fazer pressão uma, duas, cinco vezes, até que ela se pronunciou sobre um homem que havia reagido mal ao tratamento, fato que nos obrigaria a esperar ainda mais, causando-me preocupação quanto à possibilidade de ter alguma reação violenta como aquela, de batimentos a mil. Minutos depois, o enfermo apareceu preso a uma cadeira de rodas, cheio de curativos. Todos olhavam para nós tentando entender o que acontecia. Seriam zumbis? Aceitavam calados aquela tortura, os pobres coitados. Tudo bem. No final, era eu quem passava a acalmar meu pai, que não parava quieto na cadeira, saindo para fumar, tomar café e bisbilhotar a sala na qual eu faria o exame logo mais, barrando cada funcionário que passava com uma prancheta, dando meu nome para saber a ordem dos chamados na lista. Ele estava prestes a partir para um atendimento particular, mas, mesmo assim, concluímos que haveríamos de esperar. Disse-lhe que não tinha ido até ali para desistir agora. Em determinado momento, pendi a cabeça, a sós comigo, comecei a chorar, olhando para aqueles velhinhos suspirarem, aguardando o atendimento perverso. Senti profunda compaixão por todos os que já estavam no fim de suas existências e ainda tendo que passar por uma humilhação daquelas... Lamentável! Enxuguei as lágrimas, mãos postas em oração. Eu era a próxima.

A assistente pediu para que eu tirasse minha blusa e pusesse uma bata. Como não havia um banheiro reservado, troquei-me ali mesmo, sem nenhuma ajuda. Deitei na maca, enquanto ela, meio desleixada, ajustava um soro com solução medicamentosa dependurado em uma máquina que emitia bips agudos, depois procurava minha veia certa. Pela tensão, o vaso havia sumido. Enfiou a agulha, que dançava, perto do meu pulso. A circulação não respondeu, doeu. Mudou de alvo, desta vez, injetando na articulação do cotovelo direito. Enfim, a doutora entrou na sala e me fez virar para o lado esquerdo, encostando meu queixo no pescoço. Conversou comigo para que eu relaxasse, enquanto passava um gel no meu peito, realizando um prévio ultrassom e descobrimos ser vizinhas, por recordar do meu pai a passear com nossa cadelinha pelo bairro. Ela contou que tinha três poodles, mas que haviam morrido. Mudamos de assunto. Outro médico adentrou a saleta, deu um 'boa tarde' apressado, ele iria monitorar as imagens de minhas vísceras pelo computador. Puseram um anestésico em spray bem amargo na garganta e uma espécie de chupeta perfurada em minha boca, a fim de que eu não mordesse a sonda a ser enfiada goela abaixo, logo em seguida. Senti-me um gado no açougue. Quanto mais eu deglutia aquela borracha, mais tinha ânsias de vômito. Como não havia nada em meu estômago, só arrotava e expelia saliva gosmenta. Toda vez que me debatia na maca, o doutor, impaciente, recomendava: - segura a onda, senão assim não terá exame! Procurei respirar pelo nariz e fixar meu olhar em um só ponto, rezando. Os olhos lacrimejavam pesado sobre o lençol. Terminado, cuspi tudo. Aquela agonia deve ter durado uns dez minutos.

Fui chamada para olhar na tela minha veia dilatada. De fato, tenho um aneurisma gordo entre o esôfago e o coração. Estava grogue, mas lembro que cheguei a perguntar se teria uma boa qualidade de vida, com exercícios físicos, sem maiores preocupações. Senti ocultarem algo naquele discurso de que eu iria ficar bem, por ter sorte do diagnóstico no início, entretanto, já que terei a palavra final do meu clínico geral, aguardarei os resultados e uma análise com maior propriedade. Voltei para a casa um tanto triste. Minha mãe preparou um desjejum reforçado e fui repousar. Com o tempo, o efeito da anestesia foi passando e senti minha deglutição debilitada. Não dormi direito aquela noite também por conta dos esparadrapos incomodarem o posicionamento do braço e sem poder mexer direito o pescoço, pelos movimentos bruscos da sonda. O que me acalmou foram algumas mensagens positivas recebidas por mensagens de celular e pela internet, especialmente por uma amiga, que está na Índia, ter repassado o contato de seu guru, o Dr. Krishnadas, versado em medicina aiurvédica. Ele analisará meu caso de modo mais suave. A alopatia ocidental é, de fato, estarrecedora. Que dia!

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