28 de fevereiro de 2011

Desbocada

Acho que estou doente de gente. Perdi o gene da sociabilidade por hora. O ato de falar me falha a mente, ainda mais quando a pessoa com quem eu deveria coloquiar não me agrada. Bolas fora. Só não queria ser de todo muda para prosseguir a cantar com ou sem banda, porque conversar mesmo se conversa pelos olhos, pelas mãos, pelo sexo, escrevem-se cartas... É seguro, pois bem melhor pensado antes de pronunciar qualquer verborrata. Se falta de educação não fosse, haveria manhã em que bom-dia não seria mero lero lero de discurso vazio que a matilha acata. E boa-tarde-noite seriam coisas muito caras. Vou dizer na cara tudo o que eu acho, mas farei tudo com a expressão, entre rugas e poros de mapa. Quem não for analfabeto de mim logo saberá o que tenho a comunicar. Não sou toda ouvidos para não virar penico.

26 de fevereiro de 2011

Ressono

Pálpebras em vão. Dormir sem a escuridão proporcionada pelo cortinado me ofende a vista do sono diurno. Faz com que eu sinta uma dor vampira de querer me ocultar dos raios solares irremediavelmente, mas, ao mesmo tempo, ter a consciência de que a janela estará sempre ali, toda aberta, olhando para mim. Isso ofende tanto o espírito... Cega. É como tentar adormecer nua, sendo vigiada pelo inimigo. Ou mesmo pelo amigo, debaixo do lençol: um frio. É ruim ser velada sem que eu esteja morta ainda. O astro-monstro incomoda, não deixa descansar o corpo vivo, ignorando as minhas  tão acordadas fragilidades.

24 de fevereiro de 2011

Passado o efeito placebo...

Você é o meu futuro nascendo? Tenho medo de afirmar que sim, pois a gente nunca sabe nem da gente mesmo. Não é verdade? Só sei que na mesma eu não fico não. Fincarei um pé no chão batido, outro na lama do céu, a saborear qualquer artimanha da terra. Assim, fecundarei bem as sementes da promissora incerteza de viver ou morrer a qualquer momento. Que cara é essa? Espinho não nasce sem rosa, perfume não brota de areia. Tenho planos A, B, C de alfabetizar a alma em crescente, sem descendentes de carma e azul vibrante. É, tons vermelhos a todo instante cansa, mas até que o preto não me assombra em nada. Nossa sombra na parede acaba mais fiel que o próprio espelho. Reflexos na escuridão não revelam tanto as plásticas que já são mortas, mostram mais o infinito de ser ou não ser, embora todos sejamos disformes lá fora.  O uniforme que se traja é de carne, quando despidos, apenas latejamos. Sente? Nua, abro as janelas da sorte antes de ser acordada por ela. A estrela vai caindo enquanto quero aparar meu norte com a boca aberta. Assim, vamos todos nos buscar dentro de drágeas curandeiras ou de copos meio cheios de mágoa.



21 de fevereiro de 2011

Nem piedade.














Por favor, um canhão para aliviar tua dor por mim.
Carrego tanta vontade de te morrer, que vivo mais.
Tens medo do quê? Farei como quem só joga boliche.
Tu: um pino no centro. Eu: dedos cravados na bola.
Concentro e arremesso - simples assim, até caires.
Há outras dores menores, mas te preservo a grande.
O medíocre da história é teu prazer ao mistificar.
Serei ruim com quem reza para minha alma de má fé.
É sempre o inimigo que lava o pé, amigo crucifica.
Finca tua unha postiça na lama agora, muda mulher.
Sente enfeiar, crispa no sol, chora feto e afetos.
Teus descendentes vêm da água dessa infertilidade.
Não temos mais idade para isso de sentir saudades.
Tempo já acabou para quem falta, a espera desiste.

Paola Benevides

12 de fevereiro de 2011

Something about me

“Only do not forget,
if I wake up crying
it’s only because in my dream
I’m a lost child
hunting through the leaves of the night
for your hands.”
 Pablo Neruda, from “Sonnet XXI”

"I am eternally, devastatingly romantic, and I thought people would see it because ‘romantic’ doesn’t mean ‘sugary.’ It’s dark and tormented — the furor of passion, the despair of an idealism that you can’t attain."

Catherine Breillat

You live like this, sheltered, in a delicate world, and you believe you are living. Then you read a book, or you take a trip, and you discover that you are not living, that you are hibernating. The symptoms of hibernating are easily detectable: first, restlessness. The second symptom (when hibernating becomes dangerous and might degenerate into death): absence of pleasure. That is all. It appears like an innocuous illness. Monotony, boredom, death. Millions live like this (or die like this) without knowing it. They work in offices. They drive a car. They picnic with their families. They raise children. And then some shock treatment takes place, a person, a book, a song, and it awakens them and saves them from death.
Anais Nin

“When I get lonely these days, I think: So BE lonely. Learn your way around loneliness. Make a map of it. Sit with it, for once in your life. Welcome to the human experience. But never again use another person’s body or emotions as a scratching post for your own unfulfilled yearnings.”

Elizabeth Gilbert; Eat Pray Love