25 de dezembro de 2007

Velório Natalino




Dickens me sussurrou em tom de velho relógio um olá ding-dong sem jingle-bells para o seu Natal casado em paz e amor. Sonhei com o aniversariante fora da cruz, sem papais noéis cheios de nóia cocacolesca circundante. Bons ares, lares astrais em harmonia! Que o novo ano seja em folha de louros um milagre. Um efeito Natalindo pelo nascimento do Cristo pouco mencionado. Hoje é dia, amanhã também. Esperança. Alegrias. Saúde transbordante feito champanhe a estourar em toda véspera. Banho em sangue-vida emanada pelo Amém! Dê os parabéns ao Humano demasiado com suprapoderes e brinde o Natalindo dia sob o efeito mais sincérebro, sem pausas para Clausmerciais. Limpe o chão com mirra, mija na macumba em cheio, acenda o incenso, isqueiro, cigarro Bemboro de um Deus fodão. Celebre o imaterial na confraternização. Artelicidade muita e saúde. Benesses à família-mundo. Feliz tempo novo infindo. Olá! Eu que passo o Natualmente sem perus com passas. Deixa dar meia-noite pros fornos parirem cordeiros...

11 de novembro de 2007

IN-DEFINIÇÃO


Sou uma só.
E só quem conhece de perto
sabe ir um pouco mais longe.
Não vou ficar aqui me vangloriando feito fera,
esta exposição é apenas pretexto
para uma sociabilidade múltipla que devora.
O humano me distrai e inspira,
mete medo no crente
para que o enfrente no velho embate
entre espelho e reflexão.
Quero vida enquanto posso, sem culpa.
Quero a solidão e a solidariedade.
A ARTE me extendeu a mão em casamento aberto,
mas amigo pode ser você
com sua cara triste ou risonha,
preta ou amarela, com seu sexo bem declarado,
com sua mente e espírito em evolução constante.
Seja bem-vindo nestas idas e vindas
da realidade estranha.
Serei apenas uma ponte.
E este LIVRO jamais será concluído...

4 de outubro de 2007

Borboletras de significados

De imediato consideramos a borboleta como um símbolo de ligeireza e de inconstância. A noção da borboleta que se queima no candeeiro não é nossa particular: Como as borboletas se precipitam para a sua morte na flama brilhante, lê-se no Bhagavad-Gita(11,29), assim os homens correm para a sua perdição...


Graça a ligeireza, a borboleta é, no Japão, um emblema da mulher; mas duas borboletas figuram a felicidade conjugal. Ligeireza sutil: as borboletas são espíritos viajantes; sua presença anuncia uma visita ou a morte de uma pessoa próxima.



Um outro aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser; a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se se preferir, a saída do túmulo. Um simbolismo dessa ordem é utilizado no mito de Psique, que é representada com asas de borboleta. E também no de Yuan-k'o, o Imortal jardineiro, a quem a bela esposa ensina o segredo dos bichos-da-seda, e que talvez seja ela própria um bicho-da-seda.



Pode parecer paradoxal que a borboleta sirva, no mundo sino-vietnamita, para exprimir um voto de longevidade: essa assimilação resulta de uma homofobia, dois caracteres com a mesma pronúncia (t'ie) significando respectivamente, borboleta e idade avançada, septuagenário. Por outro lado, a borboleta às vezes associada ao crisântemo para simbolizar o outono(DURV, GUEM, KALL,OGRJ).



No Tochmarc Etaine ou Corte de Etain, conto irlandês do ciclo mitológico, a deusa, esposa do deus Mider e símbolo da soberania, é transformada em uma poça de água pela primeira esposa do deus, que é ciumenta. Mas dessa poça nasce, pouco tempo depois uma lagarta, que se transforma em uma magnífica borboleta, a qual o texto irlândes algumas vezes chama de mosca; mas o simbolismo é eminentemente favorável. Os deuses Mider e depois Engua a recolhem e protegem: E essa lagarta se torna em seguida uma mosca púrpura. Ela era do tamanho da cabeça de um homem, e era a mais bela que já houve no mundo. O som de sua voz e o bater de suas asas eram mais doces que as gaitas de fole, que as harpas e os cornos. Seus olhos brilhavam como pedras preciosas na obscuridade. seu odor e seu perfume faziam passar a fome e a sede a quem quer que estivesse cerca dela. As gotículas que ela lançava de suas asas curavam todo mal, toda doença, toda peste na casa daquele de quem ela se aproximava. O simbolismo é o da borboleta, o da alma liberta de seu invólucro carnal, como na simbologia cristã(CHAB,847-851), e transformada em benfeitora e bem-aventurada.


Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca do agonizante. Uma borboleta brincando entre as flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha (KRIR, 43). Os guerreiros moros acompanhavam o Sol na primeira metade de seu curso visível, até o meio-dia; em seguida, eles descem de volta à terra sob a forma de colibris ou de borboletas(KRIR,61).



Todas essas interpretações decorrem provavelmente da associação analógica da borboleta e da chama, do fato de suas cores e do bater de suas asas. Assim, o deus do fogo entre os astecas leva como emblema um peitoral chamado "Borboleta de Obsidiana". A Obsidiana, como o Silex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das facas de sacrifício. O sol, na Casa das Águias ou Templo dos Guerreiros, era figurado por uma imagem de borboleta.



Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos guerreiros, a borboleta é também para os mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundo subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim símbolo do fogo ctoniano oculto ligado à noção de sacrifício, de morte, de ressurreição. É então a borboleta de obsidiana, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Na glíptica asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo de número cinco, número do Centro do Mundo(SOUC).



Um apólogo dos balubas e dos luluas do Kasai (Zaire central) ilustra ao mesmo tempo a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem. O homem, dizem eles, segue, da vida à morte o ciclo da borboleta: ele é, na infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida em sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai sua lama que voa sob a forma de uma borboleta; a postura de ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação (FOVA). Do mesmo modo, a psicanálise moderna vê a borboleta como um símbolo de renascimento.



Uma crença popular na antiguidade greco-romana dava igualmente à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos de Pompéia, Psique, é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta (GRID). Essa crença é encontrada entre certas populações turcas da Ásia central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os defuntos podem aparecer na forma de uma mariposa(HARA, 254).

23 de setembro de 2007

Vivo por dentro do cansaço. As paredes descascam quando suo, encostada no canto. Mas ainda vou descobrir um jeito de acordar, dar cor por dentro. Às vezes pareço aquelas casas cheias de infiltrações e ranhuras, cobertas com tinta ordinária. Ando realmente tão cansada, que minha aparência se reflete no desleixo. Estou no banheiro de mim. Carrego azulejos quebradiços na cara, desenhadas florezinhas espinhentas no nariz. Lavo o espírito às ocultas dentro de quatro paredes de vidro cascorento. Embaçam com o vapor dum frio súbito. Há poucos meses não fico nua das carnes a outro. Desejaria ver o brilho do homem-sexo desenhado em minhas entranhas perpendiculares. Quantos lares terei? Um na terra, outro no céu, mais algum na mulher que me pariu e outro de frente para o mar sem fim do mundo. Tanto quis acabar com tudo, que nada nadei, morri na praia do futuro. Serei uma defunta? Há quem reze por mim enquanto durmo. Senti, mental eu sou. Raciocinava quando agir mais deveria. Cobro dos meus próprios dentes um sorriso, pois mesmo que aqueles lençóis da noite me cubram, estarei corroendo os panos do passado. Você já quis que o tempo parasse, mas sem estar feliz, indiferente a tudo? Fico por aqui...

15 de setembro de 2007

O Estrangeiro, de Baudelaire

- Diga, homem enigmático, de quem gosta mais? De seu pai, de sua mãe, de sua irmã ou de seu irmão?
- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
- Amigos?
- Você usa de palavras cujo sentido até aqui desconheço.
- Pátria?
- Ignoro a que latitude se situa.
- Beleza?
- Deusa e imortal, de bom grado a amaria.
- O ouro?
- Odeio-o como você odeia a Deus.
- Mas que gosta então, estrangeiro extraordinário?
- Das nuvens... as nuvens que passam... lá longe... lá longe... as maravilhosas nuvens!

20 de agosto de 2007

Mim in: terceira pessoa singular


E o que ela quer é o que ela bebe. Embriaguez quase só(lida). Com uma pré tensão de raciocínio só(brio), depois sacia o desopilamento, tomando precauções alcoólicas mágicas. Agora que tirem todos os adjetivos, será mais sem eles. Pois quando sorve o líqüido, faz-se chama, convida ao brinde da conversa bonossanta. Aprecia filosofias de botequim, aperitivos que massacrem seu organismo vivo só para criar resistência às desilusões vindouras: Que venham, sejam mal-vindas! - Diz, virando a mesa. Hoje desteme o medo antigo, quer se perder na liberdade presa aos trilhos na espera por vida ágil, pesada, feito os vagões encarrilhados. Filhos? Sim, depois de muitas cópulas, teve um bando de meninas. Todas as loiras se chamam PALAVRAS, algumas descambam para a morenice da MÚSICA, mas a multicor madura ARTE é primogênita, preferida. Ela quer voar feito páginas-pombo de quem lê sob uma árvore e deixa cair eureka na cabeça para sentir dor no tesão do que descobre.
Ela diz boca-carnuda, mordendo o amor:
- Eu sou uma maçã destontalmente nua!

12 de julho de 2007

Loba (Step by step)

Nasci com uma mancha vermelha em tom dourado por dentro. Aquela aquarela feita de tintas óleo que se misturam na cor do inflamável. Centelha do mal ou do bem de quem se doa à forma humana mais sofrível: a que demasiado ama. Ardente mais por ansiar carne a qualquer custo, mesmo se a saliva do veneno produz choque térmico. Sobe fumaça, provoca tosse, enquanto o ditado latino condiz:
"Amor et tussis non celantur!*"


Vou traduzir tudo isso para quem mais entende, calma! Tusso tusso e me vejo de dor. Não bati o cotovelo, mas o encruado novelo da lã interior solta pelugem, entra pelo desespero, então espirro. Isso porque disse "Atchim" no casamento e o padre nosso confundiu as orações.
Corações ao alto!

Nem deu tempo dele bater as asas, por isso paraplegicou. O risco aumentado em atropelo com a tecnologia fez meu pulso cicatrizado digitar essa melodia para não melar a noite de falso rumor. Cata-se uivos nessa vindima plenilunar. Foi-se o tempo dos poetas tuberculosos, hoje a gente canta o mal dos séculos sem se dar conta de que há poesia. Venha me rimamar nessa dança, minha pele é leitosa, mas sou uma Loba!


*Amor e tosse não se escondem.
P.S.: Se eu fosse dor, me ocultaria na estepe.
Vide passo-a-passo in:Herman Hesse

23 de junho de 2007

Declaração

(De clara dor)

Não quero lhe falar, meu grande amor. Vou ficar na minha mesmo, esperando o bote do adversário no dia em que completar mais uns anos luz. Cantarei parabéns à você em baixo tom, com o fura-bolos erguido em direção à garganta prestes ao vômito. Não segurarei tuas velas, umas quase trinta, por conta das tuas/teus zilhares de Ex(in)crementos. Há coisa mais brochante que ficar namorando o passado? Os meus boyfriends estão mortinhos à maneira deles, nem preciso mencionar, por mais que me atormentem o juízo. Sou desposada do futuro, nem presente existe para mim. Sem laços. Aquarianda pervertida por aí... Vou abrir a minha caixinha chinesa sem fim e descobrir buquês de rosa jamais ofertados. Merecidamente. Vou recolher as flores secas todas e compor, regar um epitáfio em meu jardim:

'aqui não jaz perfume algum, ninguém faz o outro feliz por muito tempo. Tudo se dá na atração do circo, novidade. Depois, mulher barbada é vencida pelo asco.'

E eu odeio ter de casar o pensamento com o seu pranto, grampo farpado em cima do muro. Fujo. Você sabe do meu lazer preferido: Pichar o mundo. Mas é que não quero que me veja a cara de abóbora depois do amanhecer. Ia dizer uma frase banal, uma que se extenderia para o irônico, mas que me permite a pura verdade:Eu Amo! Só não digo a quem porque sou ainda uma criança de esperança nula a pular fogueira em festilha de Santo Antônio burro. Acho que foi por isso que Jesus nas-céu em manjedoura de capim. R.I.P

3 de abril de 2007

Sim, sou Céutica

Que você tenha uma lua cheia em uma noite escura, palavras quentes em uma tarde fria e um caminho suave até a porta de sua casa!

Brinde Irlandês

Banal dizer que se é de lua, mas sinto dizer que sou de noite. E meio celta. Soa tudo melhor. A escuridão desvela receios, expõe sob a luz tremulosa das estrelas novas nuanças. Experimentei acampar certo crepúsculo em floresta serrana. Pacatuba, Aratanha, altaneiros 800m do Ceará.
Fazia frio nem tanto, pelo suor da descida. É, caminhei por trilhas dantes escaladas. Os destroços de avião do empresário Édson Queiroz em ferrugens ainda na grama, áurea estranha pairava. Qualquer retorcer de galho era motivo para súbito susto, qualquer murmurar de ave rouca, gralha, coruja, fincava mistério feito as pegadas na terra úmida. Vento em árvore esdruxuleante pelo satélite natural entre as gretas das palmeiras. Senti esse pavor com masoquismo de dúvida, com algum mito da caverna resguardado comigo, com desejo quase selvagem de estar nua, entregue aos deuses pagãos dos ritos de iniciação a uma nova era em profundo. Um dia consultei um médium astropsicólogo que me sondou as outras vidas. As últimas encarnações foram passadas nas Bretanhas, o que explica meu calor alvoroçado pela gélida Irlanda, pela cultura e semeadura fértil de lá. Pretendo reconhecê-la mais tarde, em viagens pela Zooropa animal inconsciente. Coletiva que sou, purificada por anti-cepticismos, eu creio no destino traçado em cada folha de trevo no bem-me-quer arrancada. Boa sina, boa sorte ressoada em badalos de Gloria!

3 de março de 2007

Com sumo Cósmico

Meus sonhos de consumo se resumem na ânsia de viajar pelo mundo, conhecer culturas outras e subculturas, ir a concertos de Rock, adquirir mais livros, publicar minhas artes, gravar uns discos, ter tempo livre de sobra para criar. Mas meus sonhos que nada custam em monetariedades podem valer mais a pena, ao menos, fazer mais sentido. Prosseguir tecendo amigos, descobrindo mais o outro em mim, decepcionando com as verdades e revelando expansões de espírito. Porque as ligações entre vidas, embora tantas vezes dêem sinal de ocupadas, atendem chamadas. Quando quero falar com Deus, produzo. Sou a favor do trabalho intelectual abridor de portas existenciais, não da prisão escrava com seus mecanismos assalariados que mais suam que ganham bonanças. Abomino quem reza o verbo do dinheiro, quem preza a verba mais do que a palavra. Detesto o texto falso dos que não cumprem promessas, dos pagadores de impostos desumanos, dos devedores de generosidade. Competir compele o homem a ter medo de perder, como se a perda do jogo de máscaras fosse a própria perda de caráter. Ninguém se conhece senão através do outro, ninguém vem ao pai senão pelo filho. Respeito apenas as hierarquias da sapiência, de um ancião machucado a vagar pela rua sozinho, embora crianças saibam bem mais do universo que adultos, pois contemplam tudo com inocência veraz, capaz de dominar o fundo. Bons nadadores-meninos, herdeiros das técnicas de mergulho essencial dentro do útero de suas mães vindas do ovo cosmogonal. Ser é só o que pretendo, sem mais e sem final. Ciclotímida ante os maiorais e ciclomística entre os capitais de giro. A Terra não pára e, debaixo dela, alguma raiz cresce forte, une águas matadouras da sede da morte.

22 de fevereiro de 2007

Loucos e Santos

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Deve ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."
OSCAR WILDE

16 de fevereiro de 2007

Vinte e dois completos no cemistério

"Nossos mortos estão sepultados em nós, mas pre­ferimos visitá-los no cemitério." Bem disse Drummond no objeto de abraço destas aspas. O poeta acertou minha preferência, já que sepultei mais um ano com vida, celebrado no campo-santo em presença de dois grandes amigos imortais escribas. Fui ao São João Batista pela vez primeira, o mais tradicional de Fortaleza, sito no centro da cidade, ao lado de um cemitério outro, o de vagões o qual breve pretendo visitar. Tudo, afinal, será matéria em decomposição para a composição nossa de materiais do artístico renováveis. Pois a arte é longa e a vida breve...

"Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile."

Antes de adentrar os lúgubres portões, amanheci edurecida por uma enferrujada penumbra. Lá, com o dia meio chuvoso a crepuscular sobre mim, pude lavar a alma em sensação de calmaria incomum. Os vivos me assediam cotidianamente com a certeza dos seus olhares carnais, enquanto os desencarnados me vigiaram silentes por ali. Anjos esculturados adornavam em cinza com suas expressões atônitas diante de Cristo, capelas com cheiro de rosas, missas de 7° dia. O meu de nascida é 16 que, somado um em seis, vira sete.

Senti a proximidade da sorte natural em meus plenos 22 anos. Seria enfado característico da adultície surgida recente? Não; gosto de viver, suporto tudo que me caiba em nome da minha arte de dizer:

- Quero ser levada para algum lugar além do mármore gelado daquelas sepulturas bonitas. Nem sei se cremada, espalhada em mar ou em rosas, mas serei banida da realidade caso meu contato escrito se refaça. Continuarei pura fantasia, poeira ao vento que muda as páginas da existência de tempos em tempos. Ser enterrado é como baixar ao planeta Terra de novo. Aprendiz da eternidade, feiticeira do universo inteiro eu
sou!

Fiquei especulando tudo, desde que datei um documento hoje a Fevereiro dezesseis de 85! Corrigi o ano para 2007 com algum receio supersticioso daquilo se concretizar tal:

Paola Fonseca Benevides
★ 16/02/1985 __ 16/02/2007

Não me assassinei ao assinar meu nome aqui, foi apenas uma amostra de, às duras penas, ter aniquilado outra fase vivente, tal felino faz com suas sete vidas segundo a sétima arte das possibilidades inúmeras. Talvez cometa... Cometa nada, agarrar-me-ei no rabo volátil de um astro em meio ao espaço. Aliás, possuo luz própria! Quem faz, cala, o ato por si resvala na cova. Tenho a impressão de que me acabarei aos 4 anos da outra permanência terrestre. O que me diz isto são as somas: 1+6+0+2+1+9+8+5 (data de nascida) e 2+2 (minha nova idade) é = a quatro!

O número 4, em japonês, é SHI e a palavra SHINU, traduzida por MORTE, por possuir o prefixo shi não traz boa sorte. É tal o nosso 13 vulgo do azar que, coincidentemente, somado um e três totaliza quatro também...

Passem os olhos que a terra há de comer nesse site acerca de supertições orientais, mais orientações em: http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=163
Até próxima visita de corpo e alma presentes! Meu maior presente é ter sido lida até aqui. E ALÉM...

11 de fevereiro de 2007

Hormomanias e NeurasTaenias Solium

Não culpá-los-ei com esta minha língua ferina e a muitos pomposa. Hormonal que sou, nervosa em tantos momentos, tudo é fator dolorido a contribuir para minha feitura interna. Exteriorizo alguns sorrisos em excesso, transpiro, sacudo meus ombros bruscamente, tanto meu sentimento é prolixo, que mal externo nas palavras ditas. O silêncio é, em primeira ordem, motivo dessa desrazão. NonSense são. Racionalizar também é calar, transferir ao papel, à esta tela que computa disputa de egos semi-anônimos sem qualquer internética.

Excitação demasiada antecede a hemorragia menstrual da minha natureza mulher, porque a minha parte homem é bruta, agressiva feito coturnos militares a chutar quem me vem pela frente com supostas piadinhas sobre TPM. Tensão-pré existe sim! Poucos acreditam, acham ser desculpa para qualquer situação perturbatória. Sofro disso com a maioria e ainda mais pela descrença, pela pilhéria masculina.

Buço, não tenho muito buço, mas certos pontos do meu corpo exigem depilação constante. Pelos grossos, escuros.
Meu médico revelou que tenho tendência a ovários policísticos, um mal comum benigno, espero. Sei que se não for tratado, pode-se perder a fertilidade. E olha que nem sei se quero ter filhos. No fundo até preciso, penso de vez em quando nisso. Parir livros só não dá, nasci com esse dom, devo doar além de mim para o mundo. É uma gritante possibilidade. Precavidemos antes que prevariquemos mais, óbvio. Quem será o pai, que nome ele terá e qual nome dará ao feto em projeção futura? Se menina, chamar-se-á Clarice. O porquê é óbvio. Se menino, Joshua. Sempre gostei desse nome, desde pequena até o Joshua Tree do U2.

No mais, todos os meus desvairios de pensamento e irrequietações podem se dever aos vermes. Ando muito de ônibus, vou às bibliotecas públicas, bebo muita água que nem sei se batizada é, respiro ares comunitários em salas de aula, centros culturais e citadinos, cemitérios... O que há comigo? Deve ter uma solitária (além de mim), encasquetando com tudo. Bem, deixa pra lá, que cá comigo, cá pra nós, eu penso demasiado quando nem é necessário, quando tantos assistem TV e vão às academias, fico com meus ares áridos academicistas. Eu sou podre, podre Teresa de cal (cu tá!).

7 de fevereiro de 2007

URBANA

Tem fuligem no meu prato, vejam! Eu que moro à beira da avenida truculenta de carros e oficinas, recebo o recheio gratuito no estômago inalador de pretidão asfáltica todos os dias. Asma não tenho ainda, embora a miopia causada pela incidência solar absurda acrescente uns graus de vidro apoiado no osso do nariz, com volteios no aro atrás da orelha surda de poluição sonora. Sirene de políciambulância, alarme por assaltos, caixas de som estrondando longe. A vibração às vezes é sentida dentro do corpo, dança-se involuntariamente. Coração da urbe a bombear sangue pelas artérias das ruas sem enchentes. Ratos humanos catam lixo por falta de trabalho e esmola, escola. Escolha indigna do acaso. Explosão demográfica entre as pernas da parideira de meninos sem fim. Um fim que pouco justifica os meios. Vive-se para morrer de incontáveis maneiras ou já se nasce morto, embrulhado em folha de jornal a ser arremessada no aterro, no vaso, descarregado feito o vômito do alcoólatra no frio do chão. O mesmo coldchão em que se dorme. Osso duro de roer. Não sobra nem o tutano. Costelas à mostra, África, Haiti do Brasil, mil mil mil mil gastos em copa do mundo, carnaval, impostos de gasolina e rios de salários aos politicamente corretos da corrupção. Fico doente por nada! Picharam o muro do Berlim Tupiniquim, nem para derrubá-lo têm forças, a não ser para derrubarem uns aos outros nas poças da indignidade assumida. Marginais somos nós agora, postos às grades dentro de casa, sem poder locomovermos para o centro, que de madrugada, tarde, noite, manhã, sempre é hora de assalto. Mãos ao alto para rogar aos céus a liberdade e a segurança. Soldados bons samaritanos se vendem, batem nos inocentes, humilham em abuso de poder. Nós à mercê do caos, do sequestro, do estelionato. Vejam, agora tem sangue no teu status! Extrato de tomate do enlatado a servir de molho para a massa dos meis de comunicação que mostram a parcial realidade crua. Perigo, nova forma de censura: não saia à rua... É para a sua segurança!

3 de fevereiro de 2007

INtensa, HiMENsa e FIM

Essa tensão interior advém de onde? De repente o que era botão, larva recolhida de borboleta mórbida, transforma-se em pétala voadora que bate dentro do peito e só falta sair pela boca. Há dias em que falo pouco, calo-me no talo porque me sabem melhor os que lêem os lábios do ocular, querendo oscular a vertigem do mundo pintado de colorido sensualado.

Como mal vês, não consigo sempre ser tão clara. Janelas têm cortinas para homenagear sóis em segredo. Já fui mais pálida e gélida antes, o aquecimento global agora vem trazendo um calor desumano que dispensa adivinhações futuras. Deduz-se hoje através do medo. Dá na mesma, todos sabem da morte vindoura de um jeito ou outro. Pior mesmo é reconhecer o assassínio cometido em massa contra a própria natureza e persistir na mortandade. Vamos derreter em puro êxtase!

Nessas horas queria ser barata ou pedra, somente para existir longevidrada na geração seguinte. Dinossauros, humanos, extra-terrestres invasores do planeta água em busca de sede vacante? Minha igreja não permite isso, está vazia. Haverá Raves nos finais de semana com padres e pastores discotecando o Rock and Roll da eternidade: único estilo ainda vivo até amanhã, junto aos clássicos dos deuses que estão beethovendo tudo. Onírica presença.

Posso descansar um pouco, largar o pensamento com outros sonhos vãos? Juventude perdida é a que nascerá a partir desta hora. Já vêm ao mundo com ele se acabando, com tanto acabado, sabendo muito, compreendendo pouquíssimo. Construir o quê? A tendência para o caos inicial aparece tal um novo amanhecer desesperado. O pôr-do-astro fumegante continuará despertando nostalgia. Deixe-me então mergulhar na epiderme do ego, pois a coexistência estará arruinada cada vez que alguém disser isto. E mais isto. Sem nexo.

Eis o velho paradoxo do ancião infantil ou da idosa criança sobrevivendo na perspectiva da falta. Sem dentes, cabelo, auto-controle. THE END poderá significar "começo" na Torre de Babel com a cabeça-canoa virada para baixo. O dilúvio de outrora secará Tsunamis sem nome. Sem animais, sem mais, sem ânima. Até o fim!

27 de janeiro de 2007

Previsionária

Das coisas que não fiz, o que eu mais gostaria e vou realizar, já está sendo preparado: mais viagens, artesanato em exposição para ledores, novos encontros, maior acúmulo e repassamento de cultura, etecéteras. O resto não posso adivinhar, embora tenha uma intuição fortíssima algumas vezes, um mal feminino que não resvala no vulgar. Ainda bem, porque se o futuro fosse óbvio, morrer-se-ia de tédio pela ausência salgada do mistério. A surpresa nos motiva a adocicar a parte insossa do cotidiano. Só que no fundo há uma urgência confessa de viver com intensidade, como se o universo inteiro fosse deteriorar e eu tivesse que preservar minhas experiências. Sem egocentrismos, faço bastante compartilhando com os outros como agora, embora o tempo presente pressinta que passa a ser passado milésimos de segundos depois. Segundas intenções do nosso âmago-deus ditando a necessidade de se querer grande parte do tudo. O todo não se resume na gente, mas é aí onde está a onipotência imperfeita humana.

Uma hora desejo amar demais, outra hora desejaria ter amado menos, sem arrependimento, embora a busca por prazer quase imediato seja meta de vários, por isso o sofrimento indesejável. Algo que não conseguiria suportar no momento seria a clausura, em contrapartida, almejei solidão até atingir a maioridade. Impossível definir mudanças e, oscilar a meu ver significa ser bem mais que antes, resguardando a peculiaridade do que já era. Processo doloroso o de existir, entretanto, se não conhecêssemos a dor, mal entenderíamos a felicidade. É tudo invenção permeando realidade, até si próprio. De que adianta condenar o mentiroso se a verdade não possui dono? Lendo muita ficção, aprendi em um conto de autor desconhecido na minha memória que um filhote de girafa ao nascer sofre uma queda de brusca altura, embora seja exatamente essa queda a maneira de se preparar à vida. Bem por aí... Tem gente que só tem percepção maior das coisas quando leva umas fortes pancadas carna-espirituais.

Quereria eu nascer de novo? Por que não, se for possível? Reparar erros jamais, acertar além. E, se este corpo com alma for o único copo com água, deveria dar de beber mais aos outros que a mim mesma. Não há nada mais displicente que se afogar na própria ilha. Prefiro mergulhar e deixar-me banhar sutilmente do que ser imprópria para banho. Somente mar purificado purifica. Eu suo a camisa de árduo trabalho e de também ócio, visto a malha original do espírito, evitando malhar o próximo de forma preconceituosa. Eis os mares os nossos fluidos ora revoltos, ora saciadores da fome pesquira, ora turvos, ora sangrados, ora felizes. Quem sou eu? Respondo com o que serei nos próximos cinco minutos, ora! NADADOIRA.

19 de janeiro de 2007

Eu apenas SOUL: MIMguém ★ ALLguém!

O rosto acho que é de ângulo plenilunar, dotado de cabelos claros, olhos melancólicos e míopes. Uso uns óculos para identificar pessoas distantes. Quando sem lentes, assumo um ar antipaticamente nipônico, apertando as pálpebras para tentar vislumbrar a quem neguei aceno.

A boca é um tanto calada, prefere cantar, comer, beber e beijar. Morde também, já que mal ladra, mas sou vacinada, tenho os dentes polidos e o sorriso de Monalisa quando era menina. Doce, doce.

O nariz gosta do cheiro da grama, de expirar CO2 em favor da prática fotossintética ante a poluição de agora. A tendência é piorar. Li O PERFUME, de Patrick Suskind e recomendo.

Os ouvidos são aguçados para agradáveis sonoridades. Sou semi-surda quando há massa de vozes entrecortadas por carros velozes com suas caixas berrantes.

O corpo é mediano. Altura: 1m62cm, Peso: 54kg. Dois braços fortinhos, sendo a mão preferencial criadora canhota. As pernas grossinhas, sendo a direita meio controversa. ETs introduziram nela um microchip enquanto dormia. Fui abduzida! Quebrei o pé, engessei até o joelho.
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Saindo do plano físico e rasgando os rótulos da aparência, meu astral é alto, apesar da timidez me projetar uma áurea taciturna certas vezes.

Há quem me ache possuidora de veia cômica. Tática tipicamente cearense para disfarçar a Macabéa de A Hora da Estrela nossa. Ah, Lispector, tu me entendeRIAS.
Prazer então, tu tal que não me conhecias. E aos que estão no processo do conheSER, um olá!
SOL, apesar das cavernas.

14 de janeiro de 2007

O Nosso Livro

"Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão "espertos" que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer ? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é! E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porquê, de facto, porquê é que eu próprio não escrevi este livro!"

Fiodor Dostoievski, in Pobre Gente

Meu livro está sendo escrito a partir das linhas tortas de Deus. Sou uma criatura criadora de rastros viventes desde o pó inicial e, até o pó derradeiro escuso sob tapetes cósmicos serei eternizada pelos registros nos Anais flatulentos das Bibliotecas. Não sei de ti, mas tenho um segredinho sujo: prateleiras cheias de Traças me provocam gases e escrever me reproduz igual alívio. Estranha logorréia. Eis porque meu vício é visceral, vem das entranhas tal o filho que porei à luz algum dia a me expandir nas gerações futuramas. Que a genética não falhe, ensine relevâncias e perfume leituras nem que sejam em iPods ultra-tecnológicos, sem perder tanta lógica na Pós-modernice aguda. Não deixem de me reescrever. Aguardo cartas, e-mails e conversas ao pé do olho. Nosso maior tesouro: vivências. Dói a realidade feito soco na barriga. Mas sem prisões, esta é minha Lei do Ventre livre!