16 de fevereiro de 2013

PARA O BEM

Quem pretende me decifrar só com o olhar acaba por perder todos os outros sentidos. Estou de nova idade, mais magra, cabelos em luzes, mas é o âmago que me põe de pé ainda, um tanto amargo, tal um bom café. Mesmo assim, tenho aprendido que a vida é doce - como diria Lobão - e que se deve viver apesar de - como diria Clarice. O "apesar de" só, com um ponto final, que diz tudo em absoluta paisagem de se ser, simplesmente, o que se é. Sem interrupções, interrogações ou afirmativas.

É na pausa do silêncio que pontuamos nossas digressões sem agredir o outro, a não ser a nós mesmos.

Já quis fugir, levar na bagagem as flores do dia, os encantos primaveris, contudo a existência me descoloriu a face rosada com aqueles tons de cinza que não estão na moda. Nunca fui de seguir estampas, afinal. Talvez eu precise mesmo é paisagear-me com outras nuanças, deixar descascando a tinta na parede até vislumbrar o que há por detrás das maquiagens à base de mãos de cal. Mundo cão. Até os cães são afáveis no mais árido latido, dentes afiados soam mais confiáveis. As pessoas mordem pelas costas, chafurdam o lixo, viram plateia da discórdia, dão corda para os títeres se enforcarem com suas próprias línguas. Eles acham que venceram, lambem-se nas patas tal Judas se fazendo de Pilatos. Maria Madalena abusou do Cristo, foi excomungada. O Papa até renunciou, caíram meteoros, chuvas e pragas foram rogadas. Deve ser o fim do mundo para a maioria, já eu começo a rodar agora, tonta do meu próprio hálito.


Parabéns para mim!

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