25 de novembro de 2010

Assim como Anais Nin,

Nego-me a viver num mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Necessito o êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Adapto-me a mim mesma.

16 de novembro de 2010

Temporã

Confusa, diante do relógio paro.
Parada, furo raro compromisso. 
Perco o último parafuso-horário.
Mas quem se importa com isso?

Perto de hoje, o que é amanhã?
Por eu não ser sã foges de mim.
Ontem já passou, quem sou eu?
Um novo rosto envelheceu enfim.



O ponto alto está acima, no sol.
E pontual está em cima da hora.
Agora na lua coberto de lençol.

Sem tempo inteiro para sua vida.
Desdobra-se em braços abertos:
Dois ponteiros apontando a saída.

12 de novembro de 2010

Prece Rápida

Redemoínhos de fogo 
em meu rogo:
- Estou endemoniada!
A mim, por favor, 
mais amenidades! 
Amém eu já ter idade 
para elas...
Sem a gorjeta suja dos céus.
Nem troféus pagãos de cabra.
Quero a minha raça de volta.
Com essência de Lótus.
Tranquila mente, c'alma.

11 de novembro de 2010

non so più andare da sola

Conforme eu não me conforme com a realidade e o tempo me passe adiante, devo dizer que amo. Com todos os defeitos. Estes eu desfaço. Desfeitos, passam a ser acertados. O relógio marca os momentos plácidos. Ponteiros abertos, porém, lado a lado feito o quente nos corpos. Pele branca com parda, sem pelo com barba, assim nos completamos. Das semelhanças, óculos com ósculos. Dos amigos que duram como nós e conosco, tenho orgulho. Íntegra integração dos que celebram a vida, sem sermos um nem dois, pois somos mais. Não temos casa própria na planta, nem visita chata, é o coração que nos abriga, a natureza que nos encanta. Que haja briga em que não se bata. E se nele não couber as nossas valsas, durmamos ao relento, cobertos pelos céus lunares, para acordarmos abensonhados de chuva ou de sol.

10 de novembro de 2010

FRENESI

Saudade de quem não se sabe morto ou alado. De quem tem 70% de água no corpo e o restante da percentagem gasto em remédios para alma. De quem me dedicou música, vídeo, riso, risco e poema. De quem me descumpriu a promessa da carteira assinada. De quem se vestia de louco por dentro. De quem sabia manejar bem a calma na cara. De uma partitura pintada em cima de um olho muito vivo, de um ET mal esculpido pela mídia babaca, de computadores, do emoticon de carneiro que ninguém usava, da piada ou trocadilho explicado pela transcrição sonora de uma bateria (TU DUMM PSSCHH!). De animais amados mais que gente, porque há gente que não sabe amá-los como ele bem fazia. Saudades egoístas de um contrato, enquanto ele pedia demissão da própria existência. Saudades de ter permanecido por mais tempo. De não ter visto todo o espetáculo (refiro-me à encenação de viver, porque não me apraz despedidas cheias de máscara). Saí sem dizer Adeus. Será que eu adivinhava? Mas se houver uma segunda temporada, posso não me animar em ver. (Nunca mais?) A sensação que fica é semelhante à de ter cochilado no final de um mesmo filme, incontáveis vezes, causando posterior desistência, pela indiferença ou falta de vontade. Pode ser que eu não sinta mais saudades. Pressinto vida ainda, só que agora me perplexa fazer parte da próxima. Pois já estou desintoxicada.

9 de novembro de 2010

ACASO

" Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso! 
Ao menos escrevem-se versos. 
Escrevem-se versos, passa-se por doido e depois por gênio,
Se calhar, Se calhar, ou até sem calhar, 
Maravilha das celebridades! "


Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

7 de novembro de 2010

Tudo a ver

Há quem cobre a atenção que não dá.
Há quem dispense delicadeza por não tê-la.
Há quem teia de aranha e envenene toda a graça.
Há quem passe e a gente nem veia.
Há quem sangre e não beba.
Há quem nada.
Mas há, antes de tudo, quem seja.