28 de setembro de 2010

Corpo oral

A vida não me saberá dizer adeus tão cedo, por isso até tarde fico acordada. Só descansarei em paz na hora desavisada. Assim nem terei medo. Faço um silêncio mesclado a vento na cortina. Que não sei se é sina ou sino de lamentos. Fecho a janela para abafar gritos de fora. Falo comigo sobre este apartamento. Sair para quê?

24 de setembro de 2010

Tenho um medo certo, incerto do que ele tem.
Sensação de esquecimento tendo tudo à volta.
Uma falta de atenção com o que vem na cara.
Fuga para o bar, para a comédia, para o sono.
Muita fome e sexo, remédios para viver vidas.
Quem disser o melhor, faço bem quando calo.
Sim, qualquer coisa envolvendo mão, cabeça.
Antipática, antiprática, antipátria, antigamente.
Hoje sorrio pelos poros feito música brasileira.
Mas canto em inglês, sinto em francês, choro.
Corro quando há assalto imaginando os tiros.
Tiro minha roupa fácil quando estou comigo.
Não acompanho seriados até o fim, eu pulo.
Capítulos de livro tenho, sem obra completa.

13 de setembro de 2010

Enlace

Quero-me bem. 
Quero-te também. 
Tão em nós estamos... 
É que somos a sós, 
Um a um, sem ambos.
Por mais que finquemos,
Nossos pés dançamos.
Juntamos a janta
Com a vontade de se comer.
Comecemos, então, 
A ser mais mim.
Viver um caso à parte
Não é bom par.
Mas é perder.
Completos apenas de um si.

4 de setembro de 2010

Mulheromem

R E T I R A D A

Respeite o silêncio
a omissão, a ausência.
É meu movimento de deserção.
Abandonei o posto,
rompi a corda,
desacreditei de tudo.
Cansei de esperar que finalmente um dia,
minha fotografia
fizesse jus ao seu criado-mudo.
Flora Figueiredo


"E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros vieram ao mundo." 
Caio Fernando Abreu


IRMANDADE

Sou homem: duro pouco
e é enorme a noite.
Mas olho para cima: 
as estrelas escrevem.

Sem entender compreendo:
Também sou escritura
e neste mesmo instante
alguém me soletra.

Octávio Paz