19 de junho de 2008

in 'A Paixão Segundo G.H'



"Enfim, enfim quebrara-se realmente o meu invólucro, e sem limite eu era. Por não ser, era. Até ao fim daquilo que eu não era, eu era. O que não sou eu, eu sou. Tudo estará em mim, se eu não for; pois 'eu' é apenas um dos espasmos instantâneos do mundo.

Minha vida não tem sentido apenas humano, é muito maior - é tão maior que, em relação ao humano, não tem sentido. Da organização geral que era maior que eu, eu só havia até então percebido os fragmentos. Mas agora, eu era muito menos que humana - e só realizaria o meu destino especificamente humano se me entregasse, como estava me entregando, ao que já não era eu, ao que já é inumano.

E entregando-me com a confiança de pertencer ao desconhecido. Pois só posso rezar ao que não conheço. E só posso amar à evidência desconhecida das coisas, e só me posso agregar ao que desconheço. Só esta é que é uma entrega real".


Clarice Lispector

10 de junho de 2008

ÍRIS RASGADA


Desóbvia, brotei da desova de sereias para cantar histórias profundas. Quem não se afoga nelas é porque pássaro se fez pelos ouvidos.

Meu silêncio planta bananeira e, quando sem eira, dá bananas para os imorais mortos de fama.

Experiencio no álcool, na conversa com humanos há anos. Luz? Tenho própria, satélite natural de mim, brilho nos olhos ante as novidades.

Dia desses vi dançar estrela na cadência de um rock progressivo e sonhei com meus vinis tais anéis de planetas distantes. Eles se foram, restaram meus dedos. Soturnos sometimes.

Hoje toco teclados, um soa feito trilha sonora de filme Sci-Fi e o outro mais parece máquina de escrever, só que virtual. De virtuose, tenho a intenção. Esta é boa porque comunica. Tenho espaço, sou grata e sideral, literal e literária.

Mel, o dia, a do contra, o que dança.
Eis o meu espírito limpando a vista para ver melhor depois do ocaso. E não por acaso, você me encontra por aí, numa espécie de Deja Vù ancestral.