22 de fevereiro de 2007

Loucos e Santos

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Deve ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."
OSCAR WILDE

16 de fevereiro de 2007

Vinte e dois completos no cemistério

"Nossos mortos estão sepultados em nós, mas pre­ferimos visitá-los no cemitério." Bem disse Drummond no objeto de abraço destas aspas. O poeta acertou minha preferência, já que sepultei mais um ano com vida, celebrado no campo-santo em presença de dois grandes amigos imortais escribas. Fui ao São João Batista pela vez primeira, o mais tradicional de Fortaleza, sito no centro da cidade, ao lado de um cemitério outro, o de vagões o qual breve pretendo visitar. Tudo, afinal, será matéria em decomposição para a composição nossa de materiais do artístico renováveis. Pois a arte é longa e a vida breve...

"Ars longa, vita brevis, occasio praeceps, experimentum periculosum, iudicium difficile."

Antes de adentrar os lúgubres portões, amanheci edurecida por uma enferrujada penumbra. Lá, com o dia meio chuvoso a crepuscular sobre mim, pude lavar a alma em sensação de calmaria incomum. Os vivos me assediam cotidianamente com a certeza dos seus olhares carnais, enquanto os desencarnados me vigiaram silentes por ali. Anjos esculturados adornavam em cinza com suas expressões atônitas diante de Cristo, capelas com cheiro de rosas, missas de 7° dia. O meu de nascida é 16 que, somado um em seis, vira sete.

Senti a proximidade da sorte natural em meus plenos 22 anos. Seria enfado característico da adultície surgida recente? Não; gosto de viver, suporto tudo que me caiba em nome da minha arte de dizer:

- Quero ser levada para algum lugar além do mármore gelado daquelas sepulturas bonitas. Nem sei se cremada, espalhada em mar ou em rosas, mas serei banida da realidade caso meu contato escrito se refaça. Continuarei pura fantasia, poeira ao vento que muda as páginas da existência de tempos em tempos. Ser enterrado é como baixar ao planeta Terra de novo. Aprendiz da eternidade, feiticeira do universo inteiro eu
sou!

Fiquei especulando tudo, desde que datei um documento hoje a Fevereiro dezesseis de 85! Corrigi o ano para 2007 com algum receio supersticioso daquilo se concretizar tal:

Paola Fonseca Benevides
★ 16/02/1985 __ 16/02/2007

Não me assassinei ao assinar meu nome aqui, foi apenas uma amostra de, às duras penas, ter aniquilado outra fase vivente, tal felino faz com suas sete vidas segundo a sétima arte das possibilidades inúmeras. Talvez cometa... Cometa nada, agarrar-me-ei no rabo volátil de um astro em meio ao espaço. Aliás, possuo luz própria! Quem faz, cala, o ato por si resvala na cova. Tenho a impressão de que me acabarei aos 4 anos da outra permanência terrestre. O que me diz isto são as somas: 1+6+0+2+1+9+8+5 (data de nascida) e 2+2 (minha nova idade) é = a quatro!

O número 4, em japonês, é SHI e a palavra SHINU, traduzida por MORTE, por possuir o prefixo shi não traz boa sorte. É tal o nosso 13 vulgo do azar que, coincidentemente, somado um e três totaliza quatro também...

Passem os olhos que a terra há de comer nesse site acerca de supertições orientais, mais orientações em: http://www.acbj.com.br/alianca/palavras.php?Palavra=163
Até próxima visita de corpo e alma presentes! Meu maior presente é ter sido lida até aqui. E ALÉM...

11 de fevereiro de 2007

Hormomanias e NeurasTaenias Solium

Não culpá-los-ei com esta minha língua ferina e a muitos pomposa. Hormonal que sou, nervosa em tantos momentos, tudo é fator dolorido a contribuir para minha feitura interna. Exteriorizo alguns sorrisos em excesso, transpiro, sacudo meus ombros bruscamente, tanto meu sentimento é prolixo, que mal externo nas palavras ditas. O silêncio é, em primeira ordem, motivo dessa desrazão. NonSense são. Racionalizar também é calar, transferir ao papel, à esta tela que computa disputa de egos semi-anônimos sem qualquer internética.

Excitação demasiada antecede a hemorragia menstrual da minha natureza mulher, porque a minha parte homem é bruta, agressiva feito coturnos militares a chutar quem me vem pela frente com supostas piadinhas sobre TPM. Tensão-pré existe sim! Poucos acreditam, acham ser desculpa para qualquer situação perturbatória. Sofro disso com a maioria e ainda mais pela descrença, pela pilhéria masculina.

Buço, não tenho muito buço, mas certos pontos do meu corpo exigem depilação constante. Pelos grossos, escuros.
Meu médico revelou que tenho tendência a ovários policísticos, um mal comum benigno, espero. Sei que se não for tratado, pode-se perder a fertilidade. E olha que nem sei se quero ter filhos. No fundo até preciso, penso de vez em quando nisso. Parir livros só não dá, nasci com esse dom, devo doar além de mim para o mundo. É uma gritante possibilidade. Precavidemos antes que prevariquemos mais, óbvio. Quem será o pai, que nome ele terá e qual nome dará ao feto em projeção futura? Se menina, chamar-se-á Clarice. O porquê é óbvio. Se menino, Joshua. Sempre gostei desse nome, desde pequena até o Joshua Tree do U2.

No mais, todos os meus desvairios de pensamento e irrequietações podem se dever aos vermes. Ando muito de ônibus, vou às bibliotecas públicas, bebo muita água que nem sei se batizada é, respiro ares comunitários em salas de aula, centros culturais e citadinos, cemitérios... O que há comigo? Deve ter uma solitária (além de mim), encasquetando com tudo. Bem, deixa pra lá, que cá comigo, cá pra nós, eu penso demasiado quando nem é necessário, quando tantos assistem TV e vão às academias, fico com meus ares áridos academicistas. Eu sou podre, podre Teresa de cal (cu tá!).

7 de fevereiro de 2007

URBANA

Tem fuligem no meu prato, vejam! Eu que moro à beira da avenida truculenta de carros e oficinas, recebo o recheio gratuito no estômago inalador de pretidão asfáltica todos os dias. Asma não tenho ainda, embora a miopia causada pela incidência solar absurda acrescente uns graus de vidro apoiado no osso do nariz, com volteios no aro atrás da orelha surda de poluição sonora. Sirene de políciambulância, alarme por assaltos, caixas de som estrondando longe. A vibração às vezes é sentida dentro do corpo, dança-se involuntariamente. Coração da urbe a bombear sangue pelas artérias das ruas sem enchentes. Ratos humanos catam lixo por falta de trabalho e esmola, escola. Escolha indigna do acaso. Explosão demográfica entre as pernas da parideira de meninos sem fim. Um fim que pouco justifica os meios. Vive-se para morrer de incontáveis maneiras ou já se nasce morto, embrulhado em folha de jornal a ser arremessada no aterro, no vaso, descarregado feito o vômito do alcoólatra no frio do chão. O mesmo coldchão em que se dorme. Osso duro de roer. Não sobra nem o tutano. Costelas à mostra, África, Haiti do Brasil, mil mil mil mil gastos em copa do mundo, carnaval, impostos de gasolina e rios de salários aos politicamente corretos da corrupção. Fico doente por nada! Picharam o muro do Berlim Tupiniquim, nem para derrubá-lo têm forças, a não ser para derrubarem uns aos outros nas poças da indignidade assumida. Marginais somos nós agora, postos às grades dentro de casa, sem poder locomovermos para o centro, que de madrugada, tarde, noite, manhã, sempre é hora de assalto. Mãos ao alto para rogar aos céus a liberdade e a segurança. Soldados bons samaritanos se vendem, batem nos inocentes, humilham em abuso de poder. Nós à mercê do caos, do sequestro, do estelionato. Vejam, agora tem sangue no teu status! Extrato de tomate do enlatado a servir de molho para a massa dos meis de comunicação que mostram a parcial realidade crua. Perigo, nova forma de censura: não saia à rua... É para a sua segurança!

3 de fevereiro de 2007

INtensa, HiMENsa e FIM

Essa tensão interior advém de onde? De repente o que era botão, larva recolhida de borboleta mórbida, transforma-se em pétala voadora que bate dentro do peito e só falta sair pela boca. Há dias em que falo pouco, calo-me no talo porque me sabem melhor os que lêem os lábios do ocular, querendo oscular a vertigem do mundo pintado de colorido sensualado.

Como mal vês, não consigo sempre ser tão clara. Janelas têm cortinas para homenagear sóis em segredo. Já fui mais pálida e gélida antes, o aquecimento global agora vem trazendo um calor desumano que dispensa adivinhações futuras. Deduz-se hoje através do medo. Dá na mesma, todos sabem da morte vindoura de um jeito ou outro. Pior mesmo é reconhecer o assassínio cometido em massa contra a própria natureza e persistir na mortandade. Vamos derreter em puro êxtase!

Nessas horas queria ser barata ou pedra, somente para existir longevidrada na geração seguinte. Dinossauros, humanos, extra-terrestres invasores do planeta água em busca de sede vacante? Minha igreja não permite isso, está vazia. Haverá Raves nos finais de semana com padres e pastores discotecando o Rock and Roll da eternidade: único estilo ainda vivo até amanhã, junto aos clássicos dos deuses que estão beethovendo tudo. Onírica presença.

Posso descansar um pouco, largar o pensamento com outros sonhos vãos? Juventude perdida é a que nascerá a partir desta hora. Já vêm ao mundo com ele se acabando, com tanto acabado, sabendo muito, compreendendo pouquíssimo. Construir o quê? A tendência para o caos inicial aparece tal um novo amanhecer desesperado. O pôr-do-astro fumegante continuará despertando nostalgia. Deixe-me então mergulhar na epiderme do ego, pois a coexistência estará arruinada cada vez que alguém disser isto. E mais isto. Sem nexo.

Eis o velho paradoxo do ancião infantil ou da idosa criança sobrevivendo na perspectiva da falta. Sem dentes, cabelo, auto-controle. THE END poderá significar "começo" na Torre de Babel com a cabeça-canoa virada para baixo. O dilúvio de outrora secará Tsunamis sem nome. Sem animais, sem mais, sem ânima. Até o fim!