28 de junho de 2009

Red lines

Sinto o horror de sofrer pelo sangue que me sai do útero. Soa como uma espécie de cobrança do cosmos por não ter fecundado o óvulo a tempo, por matar uma possibilidade de existência. Assassina por natureza, mato em mim o que não deve ficar. Os sintomas são os de sentir muito, por muito pouco em peso. Fico sensível, mas não daquela sensibilidade pacífica dos meigos pululantes, é a sensação de estar temperada, ríspida, especialmente com quem tenho um vínculo maior de amor ou de ódio. Nem é aborto, nem química, é mais um infarto mensal de toda tensão. Estava (r)indo tão bem, mas do além me veio a reação errada, o telefone na cara, o xingamento interno constante. Raiva do mundo inteiro, por ele me desacompanhar em explosão. Por pouco tempo, creio. Pois ou ele atiça logo a calmaria ou eu persisto em explodir primeiro.

27 de junho de 2009

Meus silêncios hoje se fazem mais raros que antes. As pessoas me invadiram tal uma rua inteira de protestos mas, desta vez, a favor de mim. Desta vez sim, porque não suspeitaram que meu modo calado pudesse tramar idéias maravilhosas, que eu pudesse desengosmar o quentinho do meu casulo e ornar paredes de mundo com rastros luminosos. Continuem a duvidar!

16 de junho de 2009

V. Woolf a falar de/por mim...

Meu próprio cérebro é para mim a mais inexplicável das máquinas - sempre zunindo, sussurando, voando rugindo mergulhando, e depois se enterrando na lama. E por quê? Para que esta paixão?

As coisas se desprenderam de mim. Eu prolonguei certos desejos; eu perdi amigos, alguns para a morte... outros pela incapacidade de atravessar a rua.

Cada um tem seu passado preso em si como as páginas de um livro conhecido por seu coração, e seus amigos só podem ler o título.

Se você não contar a verdade sobre si mesmo, não pode contar a verdade sobre as outras pessoas.

Estas são as mudanças da alma. Eu não acredito em envelhecimento. Eu acredito em alterar para sempre o aspecto de alguém para a luz. Eis meu otimismo.

Quanto mais se envelhece, mais se gosta de indecência.

Há muito sentido na idéia de que são as roupas que nos vestem, e não nós que as vestimos; podemos fazê-las pegar a forma dos braços ou do peito, mas elas moldam nossos corações, nossas línguas às suas tendências.

O interesse na vida não está no que as pessoas fazem, nem em suas relações mútuas, mas principalmente no poder de comunicar-se com uma terceira parte, antagonista, enigmática, ainda que talvez persuasiva, o que alguns chamam de vida em geral.

Em algum lugar, em todos os lugares, ora escondido, ora aparente no que quer que esteja escrito, está a forma de um ser humano. Se tentarmos conhecê-lo, estaremos preguiçosamente ocupados?

Realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte. Gosta-se muito mais das pessoas quando elas são abatidas por um cerco extraordinário de desgraça do que quando elas triunfam.

Não são as catástrofes, assassinatos, mortes, doenças, que nos envelhecem e nos matam; é a forma como as pessoas olham e riem, e apressam os passos para os ônibus.

É a natureza do artista importar-se excessivamente com o que dizem sobre ele. A literatura é espalhada com os restos dos homens que se importaram além da conta com as opiniões dos outros.

É fatal ser um homem ou mulher pura e simplesmente: deve-se ser uma mulher masculinamente, ou um homem femininamente.

Como mulher eu não possuo país. Como mulher, meu país é o mundo todo.

Eu estava com um humor estranho, me achando velha demais: mas agora sou uma mulher de novo - como sempre sou quando escrevo.

Todo segredo da alma de um escritor, toda a experiência de sua vida, toda a qualidade de sua mente está melhor escrita em seus trabalhos.