28 de fevereiro de 2012

RÍSPIDA (em atos)


Por: Paola Benevides

ATO I

Rabisco todas as folhas possíveis de uma resma (500 páginas) por semanas, enquanto aponto o lápis até ficar do curto ao inutilizável. A mão doendo. Separo todas as raspas da fina madeira suja de grafite e as coloco dentro da pia, sem tampa. Ligo a torneira a entupir o cano rapidamente, tudo de propósito, a fim de causar algum estrago. Afinal, hoje em dia tudo é artístico. Sendo dano, torna-se ainda mais convincente. Trago-lhes em lodo, portanto, um banheiro transbordante e absurdo!


ATO II

Quero chutar a canela fina daquela mal-amada com minha perna bonita, toda torneada no gesso, quebrar com a quebrada para ficarmos quites na rasteira. Inchar aqueles olhos fundos na base da porrada, com meu punho a ponto de contrair Lesão por Esforço Repetitivo, só por esporte. Tudo para ela saber que caminhar firme e olhar além, tranquilo, é para os fortes. Ama-se também à ponta-pés e a golpes de vista. Tudo é ensinamento. Se for briga, lamento. A intenção de selarmos a paz cela até o cavalo mais arredio. Que dirá esta égua a me coicear, relinchosa... Aceita!

26 de fevereiro de 2012

FRIA

Dou pedrada em lagoa até ferir o dorso do sapo
(só não virou príncipe, porque falta de beijo magoa)
Sou pedra de gelo quebrada a sorrir dentro do saco
(bem depois de levar umas belas de umas pauladas)
Vampirizaram minha alma e agora estou aflita
Exigem que eu dê meu sangue a troco de nada:
- Nada nessa água até ficar com hipotermia, sua maldita!
Então, eu entro nessa fria e fico calada.