14 de agosto de 2010

Papoulas para o meu fim

A melancolia mela e acolhe. Ela borra meu rosto em maquiagem com pretas lágrimas. Ela me detém nos braços tal mãe traiçoeira. Adota-me o semblante do vazio como se um buraco me vestisse de dor. Espelha-me a sombra, não possui reflexo, é opaca e oca. Quer maltratar ao mesmo tempo que me embala na canção triste que gosto de escutar. Eu poderia ter saído hoje para dançar suando alcoois, para evaporar dentro da música e do corpo. Mas eu sempre espero o amanhecer e acabo dormindo. Furam comigo. Quem? Os meus olhos. Finjo que vejo. Eles não têm tempo comigo. Vivem no trabalho de zelar pelo meu ócio. Faço o bem, volta-me o contrário. Será minha alma vesga? Queria um aconchego contra o frio no espinhaço. Durmo sozinha. Perdi minha segunda pele, adormeço no perfume das lembranças. Há quem ache normal, eu não me acostumo com o fumo do ópio, nem comprimidos uso. Oprimido é o mundo, meu mundo perdido feito as chaves das portas de casa. Eu que achava ter duas, na verdade nenhuma tenho. Minha única morada sou eu demais do mesmo que me cerca e seca a fala.

Um comentário:

Shuzy disse...

Gostei do teu jeito de escrever

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