30 de março de 2014

SILENCIADA

Arte: Alex Kisilevich

A palavra perde sentido quando o sentimento nos revela. Amar é como fazer silêncio após um curto-circuito tagarela: do atrito dos fios desencapados, vem o fumacê incensório da calma. Desfaz-se a bomba de querela no bem-querer. Prestidigitação invisível? Se não houver perdão no gesto, que haja o vento à vela e apague os ânimos. Enquanto se pensar que a paz só adestra, o confronto persistirá na destruição. Em todo ser humano, o orgulho protesta, nefasta sua percepção de poder. Só se ganha ao se perder a noção do lucro. Fulcro é sustentáculo, o resto é alarido. Vencer é não ser visto. Já projetamos um final feliz no arco-íris com sua arca cheia de ouro. Pura ilusão de ótica. Esquecemos o processo, passado e presente, onde o sol em conluio com a chuva é que faz produzir colorido. Hão de nascer criaturas caladas, pois se aladas, eu me desminto ao reconhecer. Mistifico as massas cinzentas que mais parecem nuvens a fechar o tempo nesse disse-me-disse sem dizer. Confundir quem consente impunidade por não bradar o mesmo grito é falar às paredes. Brancas, tremulam às janelas uma esperança e uma vantagem que a indiferença maculou. Sorriso amarelo ao verde-vômito cheirando a desabafo. Raiva se transmutou em buzina, ponte em muro, poste em murro, morte em viver. O que sei eu de você? Conviva comigo e me perca, impermanente tal este amanhecer em pôr no horizonte mergulhado. Eu sou o NADA.

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