15 de outubro de 2010

Essenciais Reminiscências

Tenho uma vaga lembrança das vagas que perdi. Nos ônibus, à procura de vendedoras japonesas e suas cestas com flores de lótus, além dos rapazes e moças sentadas com seus livros ao colo. Tenho mania de saber o que estão lendo quando pego a condução. Distraio-me com capas, capítulos tremendo nas mãos pela velocidade refreada. Sinto vergonha quando me apercebem vendo. Tento enxergar dentro da miopia de óculos escuros quais linhas me conduzirão ao acaso ainda. 


Nas lotadas filas da lotérica permaneço horas de pé, raramente vou, mais para apostas altas que me enfio no meio dessa gente histérica para a loto fácil da vida. Quem acerta fica podre ou rico, deixam ao menos de ser pobres capachos. Despachos nunca fiz, só simpatias para arrumar namorado na adolescência. Se bem que já tropecei num resto de farofa amarela com galinha, embebedada pela madrugada a fora, cinco anos atrás mais ou menos. Na mesma noitada perdi os óculos na Reitoria da Universidade, a qual invadi para pernoitar com suposto amigo colorido da época. Tanto mudou desde a faculdade. De dois vestibulares que prestei, tendo prestado de fato apenas um, o curso já concluí. Dos concursos que nunca tentei, oscilando a dúvida entre ter o próprio negócio ou fazer mestrado, teço uns freelas-da-mãe revisando, cantando e traduzindo. Academia me impulsiona ao enfado, tanto a de formação intelectual quanto à de ginástica. Professora, eu? Professo um não. Faço bicos, ciscando meu futuro. Por enquanto estou no modo quase, indo feito quasímodo atravessar mais este portão.

Esqueço o que me não aquece o coração. Desamores foram deixados para trás feito crianças (anões disfarçados) acenando para um carro que vai se distanciando mais e mais. Eu sou os pais saindo de férias e nunca mais voltando para a casca. Quero é ar, encher a barriga de vento. Sumi para quem desuniu. Voei aquém. Nem quero saber se também esqueceram de mim. O fato é que meu feto vivia propondo o fim. Hoje percebo que ainda estou só no começo, recém-nascida, criada de ninguém. E mesmo assim me cobro tanto. Por tudo me ardo. Sensível ao absurdo com que as pessoas já se acostumaram. Eu que me propus em casamento, não aceitando direito. A diferença é que, das aquisições recentes, fiquei noiva do sim dito cara a cara com o espelho. O quando do casar ainda espero. Vai demorar juntar todos os meus poros com as minhas terminações nervosas. Boniteza, esperteza e gentileza me falta não, falta é que eu me peça mão para a contradança do mundo. Contradição?

Um comentário:

james emanuel de albuquerque disse...

Tudo de muito bom gosto por aqui.

Um abraço.