28 de agosto de 2008

Síndrome Disfólica

Sala de espera em consultório gineco-lógico. Muitas velhas falantes a compensar falta de sexo com nexos circuncisivos. Outras folheiam revistas. Se tem outro algo que me irrita é o ar-condicionado forte, além dos olhares de esguio.

Há um quadro tão bonito à minha frente! Uma moça alva envolta em roupão florido a escrever numa espécie de livro, talvez um diário. Os cabelos partidos ao meio em tom acastanhado se misturam à cor da colcha e almofadas onde ela se de(lê)ita. Nada mais feminino. Enigmático.

Sinto-me assim, só que ao invés de estar enleada às flores desenhadas nos lençóis, descrevo sozinha minhas impossibilidades como mulher. Quero tanto e não sei o quê. Tenho a impressão de que a felicidade ainda restante em mim se inunda de medo.

Amo, mas agora de pouco abdico. Sou tão indivi-dual que quando me extendo no outro me modifico, fico arraigada a ele feito lodo escorregadio. Estou e não estou. Contida, encontro o inimigo. Este se esvai, imaginário. Ríspida sou com quem amo. Defesa. Represa para líqüidos que emprenham a libido. Desconcentro no positivo, meu polo é negro.

Não quero ter filha porque já sou. Quero filho para daqui a uns vinte anos. Nada de prender seres por nove meses na barriga, basta meu rei lá habitando, importunando dores com seu cajado no meu ego. O tempo vai recau-chutá-lo para então dar vazão à vida. Ainda dói no estômago, ácido âmago. Amargo ímpeto de assumir e cobrar-me a todo instante. Espelho embaçado. Ando respirando muito, em fogo ofegante. Entre um sufoco e outro, um estravazo.

É o sangue que brota no útero e que se esvai. O mês me marca, o ano passa rápido felizmente demais.

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