29 de janeiro de 2013

ESPELHO

Mirror Mirror
Oi, minha querida. Como tem passado? Posso lhe ajudar? Lembre-se sempre de que estarei bem aqui, cara a cara, quando mais precisar. Você é tão linda que devia perdoar em si qualquer franzir de testas, qualquer resquício de mau-humor, pois causa arroubo por onde passa, bem mais quando sorri em louvor aos dias, permanecendo feliz nas tardes e noites mesmo que intempestivas. Luminescência proclamada. Seu brilho é maior do que constelações inteiras, possui dois sóis no lugar dos olhos: sua alma resplandecerá a vida do mais alto ao mais inanimado ser, seu calor confortará a eternidade feito colo de mãe Terra. Quando abraço-lhe, sinto um amor imenso, por você ter aprendido a dividir com os outros e estar aprendendo a dar mais que ousar necessário a todos eles. Hora de crescer. Chore se achar que deve, o quanto puder, ponha para fora o que lhe faz mal, arranque com a pinça, por mais que seja trabalho árduo, cada espinho do peito. Não dê espaço aos parasitas, aloje-se em si mesma, aproprie-se do seu ser em absoluto. Quando arrancar a estaca do peito desses vampiros que tentam sugar sua energia poderosa, deixe-os sangrar sem piedade. Todos precisam entender que a dor pode ser reparadora, quem menos sentir, mais vai se amedrontar com as possibilidades. Você vai superar a si quando não se doer com  tão pouco. Quero sua verdade mais corajosa, seus dois pés se tornando quatro a fim de fincarem-se no chão com maestria e completo equilíbrio. Em vez de sua cabeça, muitas flores, folhas e frutos, você deve olhar para o mundo através do coração, abrir os tímpanos à comoção de poder criar-se. Seu barro não é de santa quebradiça, seu espírito é ouro, por isso todos recorrem a você. Até em seu sangue se lê "doadora universal", rica em fibras, potência e potássio. Imprescindível é amar você, correr esse risco sem cãibras, pois é a pessoa mais importante do universo. Abra agora os seus braços e aceite, em sim, o casamento mais perfeito que há. Você sabe que pode, pode porque consegue, segue a quem lhe aplaude, sem deixar de compreender quem lhe apupa. Sua pipa vai longe, estou a lhe dar corda para passear entre as borboletas. Divirta-se, você é jovem, tem tempo para errar menos que antes. Plante-se enquanto árvore frondosa, alimente-se de sua essência mais frutífera. Cultive a sua criança, dê de amar a quem tem fome, em seu seio carrega um nome, pronuncie-o em tom grandiloquente, o som emanado por sua boca é suave e intenso, acalma e encoraja de uma única vez. Tenha paciência para ouvir sua intuição, ela tarda mas não falha nunca. Sinta o cheiro do fogo, não da fumaça, anteveja os fatos sem que estes lhe consumam. Assuma sua liberdade, seu sexo, sua família, seus amigos. Sinta orgulho de todos eles. Dê um mergulho sem máscaras no seu reluzir. Quem cegará serão seus demônios, quem respirar serão seus benfeitores. Agradeça-os pelo que tem e, ainda mais, pelo que terá, porque será sempre muito, mas não a ponto de se acomodar. Incomode-se com os agressores da sua integridade, oriente-se comigo. Seja astuta, não má. O certo jamais lhe julgará em condenação. Diga não às modas e desenhe a sua. Vista a camisa do seu nu. Simplifique a existência sem torná-la frívola. Conviva com as diferenças como se elas fossem novas matizes. Pinte seu quadro favorito, um autorretrato bem colorido a enfeitar o seu recanto. Assobie com os pássaros, voe com eles também, especialmente no momento em que romper a linha da raia provisória. Chame os da sua laia para se perderem no azul e se encontrarem no amarelo. Faça as malas rumo ao infinito, leve bastante saúde, destemor e atenção. Será bem recebida em qualquer estação, seja de trem, seja no outono. Deixe cair as folhas ressecadas, as cutículas mortas. Deixe crescer as suas asas, deixe-as à mostra. Seu viço vencerá qualquer inveja rota. Siga a rota do sucesso, a alegria estenderá o seu tapete rubro, asteará a bandeira mais alva. Pode acreditar em mim, sou sua melhor amiga, sou a irmã siamesa, sou de estimação, a sua gata. Auto-estima elevada? Agora mexa-se, não deixe que outra mão que não a sua erre o ponto do cozimento. Sua tez delicada é presente a quem acarinha. Vá até aquela igreja dentro do seu âmago e profira o seu amor sem fim. Assim seja: especial dentre tantos e distintos. Que o vinho tinto da sobriedade manche seu tecido de prazer, com subserviência à divindade que se apetece de lhe ver. No altar está sua sorte e sua proeza, no alto estará você! Rezo para que sempre bem esteja. Nossa raça benfazeja é humana no sentido mais piedoso da palavra. Dê uma segunda chance, estabeleça uma terceira trindade entre mim, você e o Poder Superior que se apresenta neste momento no centro, na seiva e no cerne, no sofá da sua casa, na sua cama de bons sonhos eleita. Estarei sempre aqui, lembre-se disso, aperte a minha mão em suas palmas postas em oração, saudando o Deus que em mim habita e está dentro do si.

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