8 de agosto de 2009

Verdadeiriça

Falar de mim posso eu, fazem os outros, não há quem impeça minha lembrança ou mesmo a lembrança de mim. Hoje acordei com certa angústia. Não sei se é a posição dos móveis no quarto que não mexo há anos, nem se ansio por alguma nova coisa. Devem ser ambos. Corpo reclama cansado enquanto a mente capta informações tortas e diretas, direitas e mórbidas. Muito a fazer em idéias sobrepostas, a preguiça me fustiga, resolvo ler. Além do bem e do mal, Nietszche roubado da alcova de meu irmão. Ele viaja. Aproveito a cama feita, lençol esticado, janela aberta para um horizonte meio nublado, brisa fresca. Quase adormeço onde deita o Márcio. Gosto de ver estante com livros, novos, cheirosos. Só em tomá-los nas mãos pareço absorver mais cultura. Fragmentada, abri na página sobre os horrores do catolicismo e uma comparação esdrúxula entre mulher e verdade. Se o homem não as tem, está perdido. Das duas, uma. Falsa? Mas a verdade é que eu sou mulher, sofro com isso, gosto também, masoquista. Mal-quista-bem-quista, tudo consta na lista do que se é de verdade. Sou loba do homem que me escolher por raposa. Receberei uvas no bico.

Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.
Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.
Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.
Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.
HILDA HILST

2 comentários:

O POETA DE MEIA-TIGELA disse...

O que resta? - Olhar o Abismo.
O que resta? - Inconsequência.
Não sei se (ó delinquência!)
Sou verdadeiro ou sofismo...

Anônimo disse...

O que é real?
Esquesito senti
bem ou mal
Verdadeira menti!

PNE