27 de julho de 2009

Não fui, na infância,
como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra
a origem da tristeza,
e era outro o canto,
que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância,
na alba da tormentosa vida,
ergueu-se no bem,
no mal de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demôno, ante meus olhos.

Edgar Allan Poe

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