15 de janeiro de 2009

Sono pesado

Tem dias em que eu preferiria estar completamente sozinha, silenciosa, conversando com os meus pensamentos e gestos, nada mais. O que me impede? Obrigações sociais. Se não tenho de cumprir um dever, tenho de comparecer nalgum lugar, fazer valer estudos, amigos, relacionamento, fazer valer imagem, fazer valer um público, trabalho, fazer valer o dinheiro gasto. Bem, desta vez, por mais que eu não deva ter feito, desliguei o telefone e me despluguei do mundo. Passei a maior parte do dia na cama. Sonhei paisagens ruins pela manhã e aventurei pela tarde em um museu onde me perdi, movendo apenas os músculos sutis do corpo-memória, em busca de passagens secretas.

Em mim?

Da madrugada ao dia que deixei raiar por detrás da janela, tive um sonho descordial, mas não por maldade pura, foi por vingança mesmo, ódio pintado nos olhos com o vermelho mais sangrento. Surtiu alívio quando vi o inimigo chorar após tê-lo ofendido com as palavras as quais talvez nem tivesse usado no plano das coisas reais. Só que num sonho é tudo tão possível que se eu pudesse matava, livrava meu ser de certa gente que me desgasta com sua simples presença.

Felizmente ou não, despertei, já de pronto criticada por tanto tempo passado dormindo. Almocei por volta das duas da tarde, sem conseguir resolver um grão do que almejava. Burrocráticos! Isso desgastou minha cordialidade pelo resto do dia. Fui ler quadrinhos até ter minha preguiça ou afetividade de volta. Preferi adormecer, claro, com um peso de preocupação no estômago. Sonhei com uma excursão a um lugar desconhecido e imenso. Havia mar, navios, portões altíssimos e árvores. Adentrei uma espécie de museu, havia salas de aula, livros empoeirados, artigos diversos tais fantasias, objetos de guerra, pequenos lemes enferrujados. Lembro que guardei um desses comigo. Subi escadarias sem fim, alguém me puxou pelo braço convidando a correr sem destino certo. Acabamos por nos perder. Gritei por ajuda, então um velho abriu uma portinhola quase invisível no solo: água. Não confiei nele, tive medo do nado e segui por outras portas erradas. Um alarme convocava a sair do lugar antes que todos os cadeados se fechassem.

Acordei banhada em calor... Não falei com mais ninguém.

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