6 de junho de 2012

EXCREÇÃO


De três catarses orgânicas, as sensações mais prazerosas que defini para mim foram: dar uma mijada quando se está muito apertado com o acúmulo de líquidos na bexiga; ornar uma bela cagada com mil peidos despreocupados no momento em que suas tripas não podem segurar por mais nem um segundo; e gozar, suando brutalmente por todos os poros, acelerando batimentos cardíacos, perdendo o fôlego e embaralhando as outras sensibilidades por tamanho alívio, a ponto de nos fazer urrar. Os homens concretizam o ato ao lançar o sêmen ao mundo.

Afrouxar as partes baixas me parece o melhor dos descarregos corporais. É certo que existem as lágrimas, o vômito, a cusparada ou a escarrada de uma espessa placa de catarro preso, por exemplo, mas imagino serem esses tipos de despejo os mais desconfortáveis, por causarem alguma dor ou náusea dentro do refrigério gerado pela expulsão de substâncias desnecessárias ao organismo. No caso do choro, o que se é liberado mesmo são as dores de alma, irretocáveis. Pranto este que pode ser acometido pela felicidade também. Já as gargalhadas são um extravaso quase insano quando ri-se de nervoso ou da desgraça do outro. No sono, o ronco é uma liberação das mais inconvenientes, óbvio que para quem dorme ao lado do causador. E tudo começa com um bocejo, essa soltura de ar pela boca que denota, além do sono, um explícito entediamento. Não bastassem tantas crianças no mundo para sofrer com suas ejaculações existenciais precocemente, imaginem o parto como deve ser, certamente a experiência de soltura mais sublime é haver um ser dentro do outro. O que me leva a crer que jorrar faz bem e transbordar é para lá de humano.

Um comentário:

Tiago Castelo disse...

Lindo! E verdadeiro. Diria melhor: real.