20 de março de 2011

Ofusco

Sequei um dos poços de mim esta noite. Assustadora profundidade que me chama cada vez mais para dentro. Conto as estrelas olhando para baixo sem cálculos. Agora tente achar o pote de ouro por ali. Você nem consegue ver o arco-íris, não é? A ferrugem protege um interior cheio de preciosidades guardadas. Tente achá-lo antes que se fure com as lágrimas ou antes que o sol se ponha de vez por trás de todos esses olhos gordos. Está demorando tanto, que verei se guardo em local mais apropriado, perto dos que me detém quase todos os segredos e não desmanchariam conhecendo meus delitos tão humanos. Você teria medo, eu lhe garanto. Isso explica tanta superfície avermelhando suas retinas. Deixe-me cuspir bem na menina dos seus olhos para ver se ela cresce. Nada como o colírio da realidade disfarçada, eu sei. Deixe-me brilhar do avesso com minhas estranhas entranhas. Sei que parece errado fazer o pedido a uma cadente. A beleza que você conhece é rósea, tem medo de dar outra cor à ela. Preconceitua meus tons negros com seus sonhos pálidos. Então, saio a procura do princípio na perspectiva de um precipício. Começará a chover em meu poço como outrora. As estrelas se turvarão na água e algo novo atrairá minha atenção, tal uma nascente, um sol fumegante ou um voo pesado de pássaro molhado, esperando que eu o seque de todos os seus pecados (com os meus).

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