14 de janeiro de 2007

O Nosso Livro

"Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão "espertos" que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer ? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é! E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porquê, de facto, porquê é que eu próprio não escrevi este livro!"

Fiodor Dostoievski, in Pobre Gente

Meu livro está sendo escrito a partir das linhas tortas de Deus. Sou uma criatura criadora de rastros viventes desde o pó inicial e, até o pó derradeiro escuso sob tapetes cósmicos serei eternizada pelos registros nos Anais flatulentos das Bibliotecas. Não sei de ti, mas tenho um segredinho sujo: prateleiras cheias de Traças me provocam gases e escrever me reproduz igual alívio. Estranha logorréia. Eis porque meu vício é visceral, vem das entranhas tal o filho que porei à luz algum dia a me expandir nas gerações futuramas. Que a genética não falhe, ensine relevâncias e perfume leituras nem que sejam em iPods ultra-tecnológicos, sem perder tanta lógica na Pós-modernice aguda. Não deixem de me reescrever. Aguardo cartas, e-mails e conversas ao pé do olho. Nosso maior tesouro: vivências. Dói a realidade feito soco na barriga. Mas sem prisões, esta é minha Lei do Ventre livre!

Um comentário:

Anônimo disse...

legal o seu blog...adorei esse texto do dostoievski creio que voltarei mais vezes aqui..