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Eu quando menina era sozinha. Ainda sou. Aparentemente. Meu imaginário era repleto de amigos e namorados, dava vida às bonecas e aos ursos de pelúcia, criava diálogos teatrais, ao contrário dos que pensavam se tratar de monólogo intimista. Comecei a fazer poesia desde ali, brincando no quarto, rabiscando papéis, portas e paredes, esperando o sol da tarde baixar para catar folhas e dar voltas intermináveis de bicicleta no jardim, andar de patins na garagem de casa, ouvindo musiquetas em meu rádio gravador colorido. Adorava jogar bola com o pai, cabra-cega, esconde-esconde; ele nos levava ao parque do Cocó para passear de pedalinho, comer pipoca, picolé, beber suco Jandaia gelado na caixinha, falar com papagaio tagarela e macaquinho no Zoológico Sgt. Prata. Íamos também ao Aeroporto Pinto Martins antigo, perto de onde morávamos, para ver avião decolar.
A mãe dava churrascos em casa, convidava a vizinhança, às vezes comprava carangueijos vivos e ela mesma limpava e cozinhava. Era tão bom... E quando faltava luz, eu ficava eufórica para sentarmos na varanda e ouvir histórias de terror, lendas engraçadas. Morria de medo da perna cabeluda, do velho do saco e da loira do banheiro. Meu irmão, como sempre, metia medo em mim, sua única irmãzinha, caçula. Brigávamos pra passar o tempo, pra fazer hora com a cara dele, xingava e corria. Ele não gostava de dividir os brinquedinhos, nem o vídeo game. Tivemos um Atari, depois um Super Nintendo. PacMan, Tetris e Mario Bros eram meus games favoritos. Esperava Marcinho ir dormir pra mexer nos trecos dele, cansáva-me fácil das bonecas. Um dia resolvi montar um estúdio de tatuagens com carimbos de personagens dos desenhos que assistia. Lembro bem do Manda-chuva, do Papa-léguas, Pica Pau.
Na escolinha tinha mania de desenhar e pintar, modelar massinha colorida. Lá, muitos coleguinhas me pediam para tatuar com canetinha suas mãos e braços ou fazer as capas dos trabalhos. Elogiavam minha caligrafia e criatividade desde essa época. Quanto à leitura, o estímulo vinha de casa. Meus pais me deixavam escolher na banca de revistas o que quizesse
. Gibis da Turma da Mônica, álbum de figurinhas, além dos livros de contos de fada ilustrados. Tinha coleções lindíssimas de capa dura, dentre as quais uma história me fascinava: As Viagens de Gulliver, do autor irlandês Swift. O que me marcou também a lembrança foi meu pai chegando em casa com o material escolar, corria pra sentir o cheiro de caderno novo, para abrir os paradidáticos que a mamãe encapava, experimentar lápis de cor. A preparação para a volta às aulas... Sempre me destacava em Português, História e Ciências Sociais, mas na Matemática devo ter ido bem só até a quinta série. Um tanto tímida, preferia sentar nas carteiras de trás em sala de aula. Dava mais segurança ter a visão total da classe. Porém, um misto de ousadia me impelia adesafiar algumas professoras (tias), respondendo quando me cabia. Já fiz travessuras, bati num menino sardento, o Marcelo, que era apaixonado por mim.
Adorava dançar, cantar trancada no quarto, inventando coreografias até a exaustão. Depois do suor, banho. Era a mãe que lavava minha cabeça enquanto me ensinava umas canções árabes. Rava Naguila!? Nunca entendi, mas achava o máximo. Cheguei a dormir umas vezes com a mammy na época duns pesadelos e uma vez acordei dando pontapés
nela achando estar lutando Karatê com meu único mano 5 anos mais velho, o Marcinho. À noitinha, de pijamas de bolinha, ia com ela escolher umas ervas cidreira, camomila no quintal para fazer meu chá. Era impossível ir pra cama sem cumprir esse ritual...
Com essas e outras vou me divertindo, preservando a moleca eterna dentro do ser pululante. Assim eu vou crescendo mais terna e feliz!
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Na escolinha tinha mania de desenhar e pintar, modelar massinha colorida. Lá, muitos coleguinhas me pediam para tatuar com canetinha suas mãos e braços ou fazer as capas dos trabalhos. Elogiavam minha caligrafia e criatividade desde essa época. Quanto à leitura, o estímulo vinha de casa. Meus pais me deixavam escolher na banca de revistas o que quizesse
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Adorava dançar, cantar trancada no quarto, inventando coreografias até a exaustão. Depois do suor, banho. Era a mãe que lavava minha cabeça enquanto me ensinava umas canções árabes. Rava Naguila!? Nunca entendi, mas achava o máximo. Cheguei a dormir umas vezes com a mammy na época duns pesadelos e uma vez acordei dando pontapés
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Com essas e outras vou me divertindo, preservando a moleca eterna dentro do ser pululante. Assim eu vou crescendo mais terna e feliz!