23 de dezembro de 2013

CHORAÇÃO

one eye crying mixed media art

ONE EYE CRYING ©2013 Tracy Stokes

Das excreções mais sinceras vertidas pelo íntimo do ser humano, a lacrimal se afirma do alto de todas as janelas, suicidando alegrias e tristezas, a exprimir o que se é, sem esperar por perdão ou pena. É a lavagem estomacal e cardíaca da verdade, olhos nos próprios olhos, o voo do âmago sobre cantilenas. Uma ave de fogo que nos abana com calma, mas antes o ardor que a gangrena. Amputa o verbo que não se fez compreender, quando já desistiu de ser entendido. Língua a morder. Retira as farpas do ego, implodido em rendição. Pranto é orgulho furado, o sangue disfarçado de purificação. Transparente água a salgar tantas feridas dormentes, meio como o mar, muito de naufrágio, pouco de correntes. Às vezes, vem silente, contrita, outras vezes, grita, geme, empaca no desespero de não ter absolutamente o nada dentro desses nós. Enforca, enfada, comunica  gratidão, comoção ou raiva. Afrouxa catarros e catarses a escoar vertigens pelo chão. O porão da gente se abre depois de tanto tempo, exalando odores e marcas, reencontros com baús, perfumes, redes e anzóis. 

Deixamos de ser 70% mágoa, exauridos por limpar a lama que se acumula ao redor da cama, das tramas, dos precipícios. Assim, os cílios varrem tudo para debaixo das sombras, descortinando-se véus em céus tornados cheios de cores, das tantas que não identificamos por nossa limitação carnal. Há um número maior que sete nesse arco-íris equidistante, além de potes de ouro enfileirados a quem quer que seja ou almeja suporte. Não há ter. Deixa-se de ser ladrão, por ser tudo grátis, de pedras amatis a diamantes. Antes de sair a roubar, ninguém é mais refém de seus alardes. Somos todos portadores de poros e doadores de suor. Nosso trabalho é banhar a vida de calor humano ao fustigar o sol com fortes abraços, regando a Terra com Amor.

16 de dezembro de 2013

DESJEJUM

Os pães têm mais miolos que essa gente faminta
De mentir em seco o que se quer em finos grãos
As mãos postas à mesa denunciam alguma fé
Em si, amanheceria com todas as cascas
Refletiria o pretume da alma dentro do café
Pingaria amargo leite nos olhos fixos
Espantaria moscas sem usar as facas

O silêncio das horas parece prolixo
Mergulha seus ares na manteiga
Derrete-se Dali
Salvador de meia tigela
Do que já foi azeite em tela
A pintar o que sorri

Um hálito só pela manhã
De dois monges que se beijam
Falando sem medo sobre sol e romã
Segredos farfalhando à brisa
Doces lábios de amor ensejam
A flor no talo que o calor eterniza

29 de novembro de 2013

ADEJO

The Watcher II 5x7 Fine Art Print, Small Bird Art

Se o preto no branco suja,
Dê cor.
Se pai ou mãe vira coruja,
Fuja em desatino.


No fundo, haverá mais amor
Seu mundo sábio se saberá

Feito sabiá longe do ninho

Por um pio, a gente cresce:
- Vê se não desce daí, menino!

18 de novembro de 2013

COSMOS



...É o Amor que invade sem que pareça invasão. Essas terras nunca foram minhas, todos posseiros são. Invencível aquele que ama. Só perde quem pensa em perder por se dar. Solução aquosa, adequada aos mergulhos mais profundos, sem sede ou sedução. Abraça das unhas ao pé do cabelo, desencrava pelos de eras e se põe nu através dos tempos. Um respiratório a céu aberto. Não vê poros, não cai em buracos, atravessa sem dor. Despudora, depurando com olor de brisa por onde passa. Hálito, halo e hábito de refrescar a mente. Segue a sentir compaixão, não pena, pensa como o outro reagiria em seu lugar. Acena sorrindo. Intuição a largar tudo pela frente sem que o dito crente em si se ofenda. Espiritualidade a alargar campos por depositar novas sementes. Comunhão com o próprio pão: germinado, colhido e processado por mãos absolutas. Oferenda. Nada à esmo, sem enfado, nem ofensa. O cosmos lança dardos de luz e sintoniza com as frequências altas, em alfa, no seio da selva. Seiva de alfazema dourada. Amada és tu de alma em corpo. Fora, és geada, mas não faz frio, renasce em flocos de paz a emoção. Remove montanhas de medo com chuva e lufada, limpeza que afaga com o olhar da criação. Chora cachoeiras libertárias, solta libélulas, colore as porções de concreto com mata, revive uma inteira nação na raça. Sábia noção de quem consola. Mãe cheia de perdão. Com o Sol de Ser não haveria de haver tantos lamentos. Somos santos com sexo, anjos tântricos a projetar saltos pelo infinito. De espermatozoides a humanoides bonitos, construtores de pirâmides, Parmênides, Acádios, arquidioceses poderiam cessar papados, proliferarem monges. Tecnologia de sobra. Do vale das sombras à luminescência nascemos. Ciência. Todos os bons momentos não passam de agora...

16 de novembro de 2013

DOLENTE



Um calo do lado esquerdo do peito,
de tanto bater o coração. 
Um galo na cabeça, 
por virar noites cantando. Luxação.

Mas a roxa alma ainda estava inteira.
Saindo pelas cicatrizes
Talhada e retalhada em pedra
Do que se herda em solidão.

9 de novembro de 2013

CALOR

  • Querosene quer o zênite.
    Sol ateando fogo no horizonte.
    Levanta cinzas no vôo a fênix.
    Queima água a descer da fronte.
    Suor, Senhor. Que vente!

7 de novembro de 2013

NAU FRÁGIL

Conjuga o verbo amar, depois me julga. 
Joga areia no olhar e marefica. 
Tira onda do andar que eu não nado. 
Navegar é vida, a morte é âncora.

5 de novembro de 2013

SATSANG

A gente se acostuma a tudo: das costas, que só se veem através do espelho, até os cotovelos enrugados. Nunca vi a raiz do meu cabelo, nem a nuca, mas me sei em crespidão e arrepios quando em contato com o além de mim. Miasmas. Sempre quis me beijar as vísceras, mas eu só senti, batendo-me por dentro, ardendo-me o suco gástrico pelas paredes do estômago. Basta estar vivo e imaginar um mundo sem muros dentro de nós, vermelhidão-tijolo. Ter um coração já basta para sabermos quais são as dores, umas mais suportáveis que outras. Nos outros parece admissível, admirável. Louvamos a paixão de um Cristo sem sermos pregos à cruz. Desnecessário. Mas só enquanto não se perde um ente, um algo. Após nos deixarem de mão, sabemos que nada nos pertence nessa existência, nem os pensamentos - somas sobrecarregadas de outras mentalidades, conceitos pré-fabricados; nem os nossos corpos - carnes frágeis, vestimentas fáceis de se perder, quebrar em ossos, arrancar feito palavras de nossas bocas. É tempo da descasca!

O gari convive com o lixo e, depois de certo tempo, as recepções nervosas de seu cérebro obediente convencem-no a não sentir mais o cheiro. O degustador de vinhos ou sommelier requer grãos de café para despistar outros aromas das viciadas narinas. Assim, surgem as doses que se devem aumentar, para que o organismo não crie resistência, alargue-se, tome ar. E Game Over. Over and over again. Ninguém quer perder. Nosso instinto de cachorro cria expectativa ante o passeio e a comida; se não tiver, haja choro. Primitivos tão altivos somos quando batemos o pé, exigimos, enxugamos o gelo e descontrolamos na hora em que falta o ouro, o outro, porque quase sempre não se quer sem; só, tampouco.

É segredo ainda para muitos, mas tudo o que almejamos está dentro do si, sem nomes. O processo é lento e silencioso, composto por mais não do que sim. Experimente não falar por algumas horas, calar também os sentimentos daninhos, as ondas sonoras do interior, não beber por vários dias, não fumar, sublimar o sexo, a carne, a mente em burburinho. Jejuar dos prazeres para alcançar a unidade. A iluminação é como semente. Planta, rega, regra e deixa secar ao sol. Sozinha. Respira verdadeiramente com todos os poros, enquanto caminha. Sinta a barriga elevar e contrair, inspire paz, expire o medo, inspire amor, expire a raiva, inspire alegria, expire consternação. O nada em absoluto é a meta. A seta é o dedo indicador da Verdade. Passado é mindinho.

3 de novembro de 2013

DOMINICAL

Domingos têm cheiro de chuva, mesmo quando faz sol. Demão de cal nas paredes de casa, mormaço nos terraços. Às vezes praia, às vezes futebol. Mais tempo debaixo dos lençóis, a sós ou não, pela certeza ameaçadora do dia seguinte, que já chegou atrasado no trabalho. Almoço em família pedido por telefone. Preguiça de chegar. Apetite perdido. Os carros rareiam pelas ruas mortas, enquanto os assaltos andam de motocicleta. Domingo parece um outono, febril com suas quedas de árvore, quebras de perna a quem não vai para lugar algum, dor de cabeça a quem amanhece de ressaca. Domingo, estatisticamente, apresenta os mais altos índices suicidas, quando das tentativas de enforcar as segundas-feiras. Asneiras em todos os canais abertos. Nos fechados, a TV por assinatura reexibe clássicos do suspense Hitchcockeano, tão desgastados quanto dentes em unhas roídas.

Domingo tem cheiro de baralho sobre a mesa, espirros de criança brincando na calçada, pela poeira da faxina a abrir a semana. Domingo não engana ninguém, tem olheiras e cabelos desgrenhados, visitas inesperadas e muita solidão, também. Domingo da fossa estourada, da disenteria empostada na voz do cantor sertanejo, do som do carro daquele vizinho que não precisa levantar cedo amanhã por culpa da cachaça. Domingo tem medo do fim, da insônia e da liberdade. Domingo abarrota os cinemas com casais e pizzarias com celulares iluminando rostos que não se cruzam em olhares por mais do que cinco minutos. Domingo se levanta para fumar lá fora e avista os amigos conversarem sobre amenidades. Domingo segrega. Domingo aplica a prova do vestibular, encabula o aluno mais gabaritado até prestar concurso. Domingo de judeu, resguardado, com ceia, enceradeira, louça malsã que se quebra à cabeça do marido. Domingo desapaixonado, cheirando a café na mamadeira posto por engano.

Domingo, dia de missa e fofoca na praça, paquera entre pipocas, dondocas em casamento. Domingo das velhinhas reclamonas, dos jornais escondendo os semblantes cansados, dos livros pesados sobre a perna. Domingo de momentos enquadrados nos porta-retratos. Domingo dos certos e errados, das lembranças esquecidas pelo mal de Alzheimer, do amarelo ralo nas cartas há tempos fechadas naquela caixa da parte superior do guarda-roupa. Domingo cheio de pratos para lavar, depois, sentar no sofá e fazer um balanço das horas vindouras. Domingo é um planejamento do próximo domingo, dia de chorar sem cortar cebolas e andar de ceroulas pelo apartamento. Domingo que é domingo faz as pazes consigo, numa boa.

1 de novembro de 2013

NOVEMBRO

De tudo que é novo, eu já não lembro...
Então, chegou Novembro, a quem louvo!
Personifico o calendário com as faces do tempo.
Se for lenta a vida, data-me uma valsa.
Se houver cor no vento, a balsa dá uma corrida.


Rema, rema, rema a rima
Que se mina em explosão
O fim do ano se aproxima
Chuva de prata sem rojão
Arrojo de quem me alarda
À rua cachorro feito ladrão

Sou mês de Vênus e nus
Com a lua em escorpião
Roubo estrelas, faço jus
Às velas sobre a mesa

Ceia-me, sim, porque estou acesa
Vim ao luar vestida de azul neon
Vinho ao mar, ondas de sobremesa
Som que sereia me ouviu cantar

Meu piso é de areia
Meu riso é um frouxo
Não tenho parafuso
Parou o fuso, horário nem há

Estou quase acabando
Mas nessa ampulheta 
Cabe sempre um oposto 
Que se pode entornar

27 de outubro de 2013

SORTE

De tanto engolir sapo em busca do príncipe encantado, 
enamorou-se pelo rei na barriga e saltou no lago. 
Nunca mais largou o espelho, que morreu afogado.

21 de outubro de 2013

DESCARADA


O que ser? Que ser há? Uma rocha, um papel?
Tudo isso. Sou rabiscos.
Mesmo que caia um cisco do céu no olho.
A estrela cadente me aponta um fim.
Que não acaba, - ABRACADABRA!
Sorriso em desenho, sem cenho franzido.
A senha que faltava para o ouvido de mim.
Porta aberta na palavra, ser um zumbido.
Pousar na dor como quem não quer afundar.
Sentir a paulada na cabeça afinar o sangue.
Como um cofre de porco cheio de moedas sem validade.
Estamos todos quebrados, à revelia da vaidade, sem canoa nem mar.
A eternidade é um poço profundo com o mundo inteiro a navegar.
Caneta tinteiro, timoneiro do infinito, a pintar semblantes. 
Somos inúmeras caras e coroas a povoar meros instantes. 

15 de outubro de 2013

MAIS LARGA QUE UM CAMINHO

Norman Prescott-Davies (1862-1915), "Sea nymph"
A entrega pode ser cega e a entrada um labirinto.
Estrada erra o asfalto quando planta acostamento.
Com os pés no chão do momento, atinge-se o equilíbrio.
Colibris, indo e vindo, voarão sob seus plágios helicópteros.
Lepidópteros estão desacostumados com as pressas humanas.

Fugir do que se prega é abandonar o teatro das regras pobretanas.
Ao regar primaveras, perfuma-se o infindo do tempo em rimas ricas.
Alimento para as almas, ventos que enlevam os poros de outras vidas.

7 de outubro de 2013

MARÉ ALTA


Põe a cabeça para fora e aflora a alma
Corpo submerso sem trauma de nadar
É um mar de versos e ondas sonoras
Alto lá!

2 de outubro de 2013

EFÊMERA

Apego é uma doença que se pega contínua pela raça humana. Só quem perdeu tanto pode se acostumar com desenlaces. Por vezes, acho que morrer pode ser como desembrulhar presentes. Estar ausente soa mórbido a quem precisa sempre se atar a presenças. Todos que se sabem sós sentem medo. O exercício de espiritualizar-se neste mundo das concretudes machuca, como se nos crescessem asas pesadas nas costas, mesmo estando certos de que o voo nos porá mais leves. Não sei a ordem justa dos tamanhos, mas me parece que quanto maior a alma, maior também o sofrimento. A cada um cabe seu fardo: se o defunto for menor, batamos as botas para medir as pegadas do outro através do nosso encalço, pois vestir o paletó de madeira é só um passo para a eternidade. Mas será? O que teremos de nós? Apenas seremos enquanto ainda somos. Lembrança é outra coisa que se perde. 

Temos que ceder lugar ao próximo, como assim fazemos ou deveríamos fazer com os idosos em filas e ônibus. Uma convenção social pode carregar implícito o significado de que, ora, se são velhos, já esperaram bastante e sofreram, então não nos custará deixá-los passar à frente. De igual forma ocorre com as grávidas, queremos facilitar o processo tanto de ida como o de chegada, haja vista nascimentos serem dolorosos ou exigirem maiores cuidados. Possuímos o desânimo por sermos seres animados. Aqui, estamos mesmo só de passagem. Somos finitos se presos a um novelo de pensamentos individualistas, porque se nos aceitarmos enquanto entidades cerebradas que se intercomunicam feito gotas de oceano, neurônios com seus neurotransmissores, reconheceremos que não há todo sem suas partes. Somos compostos por uma argamassa universal, transitória, sempre mutável.

Um corpo pode viver com os membros amputados. Por redobrar esforços, acaba por desempenhar-se melhor em novas atividades. Sem visão, aprimora o olfato, aguça a audição ou o tato. De maneira semelhante, acabamos por nos acostumar com a perda de entes queridos. Temos de nos conformar com nossas lacunas, preenchendo-as de novas possibilidades. Exemplos típicos de readaptação com o destino, já que em desatino ou não, nada é por acaso. A natureza nos instintou de sismas com a criação, logo, passamos a criar. Criamos para tentar não deixar passar nada em branco. Papel, tela, escola, palco, lar, família, amigo, amante. Escrevemos a história dos instantes.

30 de setembro de 2013

CORTINA

Foto: A pele pula do cetim em mim em pelo.
Do poro do pé ao cabelo, sou camarim.
Costurei espelho com luz na pálpebra.
O show nunca mais teve fim.

PAOLA BENEVIDES

A pele pula 
do cetim 
em mim 
em pelo.
Do poro do pé
ao cabelo,
sou camarim.

Costurei espelho 
com luz 
na pálpebra.

O show 
nunca mais 
teve fim.

27 de setembro de 2013

COLOMBINA

Nem chorar mais consigo, goela travada. Virei palhaça no teatro da vida. A lágrima que desce é a do Pierrot ao lado, desenhada em lápis preto por sua Inconstantina. Guizos no chapéu me acalmam feito sininhos da sorte. A fonte dos desejos secou? A lida não tem me deixado muito tempo. Realizarei o bastante antes da morte? Modéstia desligou a torneira do Inferno de Dante. Graças aos Deuses, tenho grandes amigos e sigo cativando novos intentos. Dos que se foram, alguns continuam sendo, encarnados ou não. Quanto aos mascarados, Ingenuidade desconhece, mas caladinha sabe um bocado essa madame Intuição. Solidão virou festa regada a outros caminhos. Há séculos desconheço o cheiro dos vinhos. 

Tomo passe, bebo água fluidificada, engulo mantras e meditação. Daí, ontem aprendi a sorrir sem que achasse graça. Atuei, desinibi. Entrei tanto na personagem, que as pessoas não paravam de rir e pedir bis. Bisancène! Repeti na hora da foto. Não que eu leve jeito, mas o jeito me levou para a coisa, por uma nobre causa, feito Loto. Ganhei no sorteio de artesanar para uma casa lotada. Se eu ficasse parada, poluída, a lagoa venosa iria obstruir. Chega de pausa. Então, fui agir. Caiu bem meia-calça vermelha, descalça, short dourado, maquiagem de boneca, um vestido colorido discrepante com minha maneira de travestir. Lembrei que hoje é dia de São Cosme e Damião, talvez por isso tenha resgatado essa criança, pagando fiança para sair da cadeia da mesmice. Eu, meio Dorian, meio Alice no meio dessa multidão a me pregar peças tão felizes.

23 de setembro de 2013

MEMORIAL

Sépia, insípida... 
Uma foto se desfaz na gaveta dos dias.
Ácaros tomaram a morte pela memória.

18 de setembro de 2013

ESCULHAMBACIONISMO

Acumulo adjetivos como quem coleciona patentes. De ofensas a elogios. Meus brios se espremem quando não há identificação com elas, mas as pessoas estão craques nisso. Até os mais omissos me surpreendem com seus certames poéticos, ascéticos, invencíveis. Brincam de psicodrama com os dramas alheios e, por quererem palco ou lona, interpõem-se frente às fraquezas, saem no braço comigo, fiel aos que me leem matizes sem as quererem más. As franquezas minhas são boas atrizes? Então, muito mais me amarás. Se canto uma canção que versa sobre amores, já supõem que faço uma declaração. Se ouço outra sobre dores, já a desclassificam em rumores patéticos e se doem por si. Estou perdendo a noção de mim por dar ouvidos a quem não me sabe a metade, avalie a cara. Viro, mas não para dá-la a bater. Talvez por ter feito o bastante. Morrissey abençoe as almas dos amigos, que vão para o inferno dos bons entendedores. Não vou nem dizer. Para quando a comunicação não vai bem, inventaram as indiretas. Isso lá é coisa de gente direita... Então, saia da reta. Atenção! Retenção do bem ninguém acerta. Se tudo que é meu parece feio, quem desdenha quer apetecer. À falta de conhecimento inteiro, costumo chamar preconceito. Os íntegros estudam antes de saber. 

Ironia fina, faro fino, operação pente fino, mas fineza que é bom, agudeza de caráter, cadê? Nunca afirmei ser a melhor no trato humano, por isso pergunto. Cadê? Não está mais aqui quem falou, porque vim para escrever. Despejar a água suja do sabão que não querem lamber. Veja como é bom ser invisível. A beleza vai envelhecer e pode nem dar filhos. Não há trilhos para o que se pode ser, se a vontade de voar vem do espírito. Estou em expansão no mesmo planeta que você. Sinto-me um estrangeiro, uzbesquistão mal quisto falando alemão, por vezes, inimigo. Melhor ter este por perto. O aperto de mão pode ceder. O chão pode se abrir. Só a boca que devo evitar, pois se vem uma mosca e outra a pegar carona no meu dejeto, projeta-se no que nem disparei. Ou seja, o que era projétil, virou míssil, o que era cocô, defequei, dei fé. Pequei, Senhor! Ai de mim se usar o pronome possessivo no "tu", sendo "seu". Nunca fui com a cara dos Parnasianos, licença me dei à poemática e mesclei o nó da gramática com coloquialismos. Imagine se suspeitassem que estudei fundamentos linguísticos e que, por isso mesmo, é que acabei com estes preciosismos. Despetalei a última flor do Lácio quando ela já nem de donzela se fazia. Azia me dá a própria língua, às vezes. "In the beginning was the Word, and the word was with God." (John 1:1) Bla bla bla, bigmouth strikes again and I've got no right to take my place with the human race.

15 de setembro de 2013

OBTUSA

Perdi um botão
Enquanto conversava com os outros da blusa.
Por tantos mal-me-queres, tornei-me reclusa,
Arrependida de trocar flores inteiras por suas pétalas.

11 de setembro de 2013

EUNÍRICO


Eu sou o assombro às avessas, o escombro sem pedras, o murmúrio do rio que corre por debaixo das minhas descobertas. Eu sou o lírio manchado de branco, o acalanto funkeado das três horas da manhã com os bêbados em seus carros, acidentalmente mórbidos. Eu sou a semente do limão presa aos dentes do macaco, não tenho asco do medo, não tenho azedo nos espasmos. Sou livre de toda raça, de toda falta de cor. Sou a piração de Nero, a pilha alcalina dos crânios que não cessam à noite. Eu sou o dia na praia enfeitado por cocos abandonados em casca. Verde e dura. Esmeralda. Não tenho pudor das minhas vestes, mas estou nua nesta dança do ventre com um pênis amarrado à minha testa. Vou assobiar um cio, bicar um grito, cochilar um ronco na chuva. Vou caminhar sobre nuvens feito o piolho nas barbas de deus. Eu sou Jesus Cristo Conegundes Vieira. Analfabeto de pai e mãe. Eu sou artista de rua mal-amado no Brasil, bem acolhido em Londres. Eu sou de Flandres. Comi aroeira e arrotei juá. Não sei fazenda nada. Sob o luar, corrijo correntezas, acorrentando mares. Eu sou baluarte popular, solto pipa do telhado quando me dá na telha. Quebro ouvidos com passos, por cima, vejo estrelas. Encabulo cometas quando sei trovejar. Minha boca é um trompete, os olhos tímidos, os cílios cínicos a escovar ventania. Vou te falar. Eu estava comendo pipoca quando um dia me veio um estalo. Pensei. Por que não pular? Então, saltei de salto quinze da beira da panela e caí no gogó do sapo. Virei ebó de príncipe. Mastiguei, mastiguei e nada de casamento. Fiquei para titia. Agora, eu me pergunto: que diabos vim fazer aqui na fila de grávidos? Engordei com a cinta até a papada. Contratei cirurgiões cubanos, amiguei com um e tive três tiçõezinhos. Tinham dentes mais alvos que os de alho, a morder o mamilo de um só peito. O outro entupiu sem leite. Queriam morder o assoalho feito cães. Anos depois, eu me vi latindo, mais afável que os humanos. Havia transcendido às priscas eras do paleolítico. Rangava salada de plâncton. Virei vegetariano, mudei de sexo pela segunda vez, implantei microasas de colibris e me libertei do convívio com demaseados. Estou na medida. Ultrapassei os mil metros na maratona dos suplícios. Meu vício hoje é fumar maços cheios de ectoplasma. O fenômeno das mesas girantes acrescentei às atrações do trem fantasma. Fumacê de gelo seco. Eu sou um circo. Eu sou forragem, pasto e milho. Eu sou a ferrugem no trilho do trem. Eu sou um trailer antes habitado por Alex Supertramp. Mesmo fiasco, eu não me desisto. Back on the chain gang.

22 de agosto de 2013

ARVORECIDA

Quando me deprimo no cimo de querer bem, no caule sinto golpes dos que se dizem mestres, na opinião certeira sobre desistir de quem comigo se interpõe feito um machado. Põem lenha na fogueira do atavismo de achar que o mal se paga com mais mal feito, mas não deitam a cabeça sequer um instante, não apagam a mágoa com suas borrachas extraídas da seringueira derrubada. No leito, mesmo que me derrubem os galhos, continuarei natureza. A alma não estará em frangalhos pelas sementes de sol que depositei durante as fases da lua. A noite descansa com olhos semicerrados. 

O tempo germinará a cura do medo, o perdão na desventura. Ledo é o engano dos que contam bem-me-queres. Despetalam a flor ao invés de se enfeitarem no íntimo com a sua inteireza. Embelezam os caminhos que perpassam de amarelo. É certo também acentuarem o perfume nesse arrancar de ramagens, mas é a seiva de sangue que grita. Logo, o vento espalhará o talo quebrado, que perderá a cor, esmaecendo finito, porém sendo lembrado como o portador de desabrochares d'outrora. Haverá morte? Se me matam em pensamento é porque vivifico. Se me ameaçam a sorte é porque me eternizo. Meu sorriso quase raro, uma pedra de granizo. Dentes de remoer passado. Língua de cortar o aço, às vezes. Tudo porque a humanidade incide e eu a reconheço. Tendo consciência dos vícios, estes estarão a doze passos de não mais existirem. Paraíso? Desfaleço no porte, forte me ponho, readapto cresceres. O verde me amadurece e ainda não estou endurecida. Vida é partir-se ao meio, pois o meio é equilíbrio. Fruta. Do livre-arbítrio, somos árbitros, então escolho ser o sumo doce de uma maçã, para quando eu sumir lembrarem de Eva - em toda sua Gênese.

17 de agosto de 2013

NINFÁCEA

Minha piscina, por tanto lodo acumulado entre eras, está lotada de Lótus. Ela me propõe um mergulho até suas raízes mais profundas, a ensinar o vislumbre além do róseo das pétalas. Meu corpo de peso pétreo, em posição meditativa, submerge pouco a pouco, em busca do equilíbrio. Olhos fechados e silêncio. Um batismo natural feito especialmente para o homem crente no Deus que habita em si. A respiração, de tão calma, fez-me guardar ar o tempo necessário para ir e voltar de dentro. Um parto novo de mim em crescimento eterno. O topo da cabeça troca luminescências com o sol. Os pés, com o solo, tateiam uma posição de retidão agora. Mãos atadas em frente ao peito, na colheita de afetos que se abrem a cada dia. Gratidão pelas virtudes aprimoradas: discernimento e paciência. Compaixão pelos que sofrem. De toda dor se tira proveito. Aproveito para dizer o quanto sou e aceito do muito que tu és. Venho à tona com o tônus espiritual a desabrochar. Estou em paz. 

16 de agosto de 2013

ESCAPAMENTO

Buzina só contra o silêncio, que a próxima curva te deixa descansar em paz.
Bate na traseira do vento, que teu intento de voar cairá pelos ais.
Freia o que te enfeia para enfeitar com lama o canto dos pneus.
Rola o volante para o lado direito e dê carona aos pedestres.
Mestres são aqueles que beiram muitas estradas a procura de um Deus pelo retrovisor.

13 de agosto de 2013

DADA

Quanto mais se dá
Mais se tem
Faça para os outros
E para ti faça além
Bem aqui vale ouro
O outro a si vale por cem
Sem mil, terei a mim
Ao menos, que tudo sou
Que mudo, sei
Sempre me doo - de doer
Ao mundo

    9 de agosto de 2013

    PRÓSPERA

    Sinto-me enriquecida
    Sempre dadivosa, nunca endividada
    A vida é investir na vestimenta da palavra
    Só o sentimento corrente em moeda
    É da nossa conta
    Como olho d'água
    Que de fonte inesgotável tanto brota
    Cascata dourada

    Não quer o Sol, nem quer o Mar
    Porque já os têm na mão em palma
    Fecha o aplauso entre o peito:
    Namastê!
    E no leito do rio pode-se deter a calma
    Afunda o pé direito e o esquerdo
    Dentro da fé
    Celebra abundância
    Deixa borboletar a pupa da alma

    2 de agosto de 2013

    AGOSTO

    Mês dos ventos, traga-nos o que o calor levou. Saia de Marilyn Monroe e entre pela janela. Liberdade para temer o que virá, porque nunca sabemos dela. Debaixo para cima, de cabeça para um facho. Dê luz! Banhe rostos com essa fresca, lambida dos Deuses nus. Arraste o pó da estagnação e lance o pólen às fertilezas. Assim, brotaremos limpos em alma como após uma lavagem à palo seco. Seremos velhos, porém enxutos, sem essa roupa suja que se lava em casa e não a esmo, sem atingir os olhos atentos dos desamados, nem tingir os rios com sangue derramado como se fosse leite.

    16 de julho de 2013

    POMBALESCÊNCIA DISTRAÍDA

    Sobrevoa todos os sentidos com a paz de redoma
    Afasta do espírito o que não traz um galho de arruda
    Muda de planta e vai para o cascalho morar na rua
    Constrói um templo em ti mesmo que não desmorona

    26 de junho de 2013

    TEMPORÃ

    Toda menina carrega em si uma ampulheta 
    Espera nenem como quem cultiva jardim
    Quando planta bananeira, vê escoar o sumo
    Pelo tempo que já fustigou seu fim, aceita
    É mulher feita, vovó, a si, a sós, diz sim
    À hora da colheita

    27 de maio de 2013

    MUSA


























    Se rainha ou deusa
    Que ladainha cantarei sobre minha fortaleza?
    Lápide sem lástimas tantas
    Só uma anja de mármore
    A entremear fósseis lembranças

    Minha lourice laureada manca às vezes
    Sou morena por dentro da casca
    Dessas brancas de chupar o caju
    Sem jogar fora o caroço

    Sou o dorso da frigideira a dourar massa
    A mascar grosso fumo e cuspir no molho
    Miolo de pão eu dou, só não dou sopa
    Vou ao vestuário para lavar louça
    Pois boneca como eu dança em caixinha de música

    Difusa quando infanta
    Confusa adolescente
    Mulher que reluz feito fada

    Nem profana
    Nem santa
    Um pouco de ser cada
    Mais um bocado de ter fama

    20 de maio de 2013

    REVELAÇÃO

    A vida é uma ida com reviravolta. 
    Nem verde, nem madura, mas esperançosa.
    Uma rosa cheia de viços e vícios.
    Um talo defumando espinhos na prateleira de incensos raros.
    Uma meditação sem pensamento brusco.
    Enquadramento na abstração da tela.
    Painel etrusco.
    Mostra até quando esconde. 
    Encontra e aporta. 
    Aponta e vegeta.
    A vida é dada em Hare Krishnas e ramalhetes.
    É rara, é Rama espalhada pelo chão.
    E se derrama nos tapetes feito gato persa.
    E se propaga através da última constelação encontrada
    Num pacote de salgadinhos mal-cheirosos.
    Terna consternação: saber-se eterna.
    O brilho compensa a dor no dorso.
    Adorno é corpo que pensa que sabe
    Mas está morto.

    7 de maio de 2013

    MUDA


    O silêncio me cala quando fala de si...
    Se verbo não medrasse, haveria de sentir
    o que ninguém assina em baixo

    Só por ser um bento analfabeto,
    cavalo batizado por água do mar
    Pelos da égua a coicear o vento:

    - O estar e o não estar -

    Quando tudo se quer ausente
    A mente insiste em registrar
    O que a voz mudou

    Vira-se o olhar para
    parar a escrita
    Repentinamente

    5 de maio de 2013

    DURA, DOURA

    Anne Marie Zylberman

    Quando minhas lágrimas se tornarem ouro em pó
    Fechar-se-ão as torneiras por pura preciosidade
    Meu interior, um cofre, sem sofrer nem dó sentir
    Brilhará tal o pote com sorte no arco-íris sem fim

    3 de maio de 2013

    ESCULTURA


    Mel escorre na face das bonitezas quando choram.
    Ao relutarem dentro de si, quebram Michelângelos.
    Pode haver gelo no que arde? Fogos de ardil, vício...
    Goteja fácil o suor de quem luta às vistas do vizinho.
    Os mais fracos só não carregam máscaras pelo peso.
    Quem muito sustenta concreto armado perde a razão.
    Sensibilidade é o siso dos estetas, a leveza do gesso.
    Mas prefeririam bem ser atletas do riso em meia lua.
    Pincelando, da relva à rua, com cagadas de pombo.
    Dói o lombo do Aleijadinho essas estatuárias de hoje.
    Homenagem póstuma não basta a espírito tão grande.
    Quem sabe a autoria das falanges de anjos da igreja?
    Lampeja o céu do pai e dos filhos no ato da criação.
    O dedo encosta no milagre, bulinando em segredo:
    Sublimação.

    30 de abril de 2013

    O CERNE



    Descansar o pé no alpendre, pender a cabeça para dentro do livro.
    Aprender a ser livre sem querer o certo, por nele já se estar.
    Elevar a fé, balão a gás, aos céus até se encontrar, perdendo de vista.

    Folhear revista dos anos passados em sala de espera é estar visionário.
    O escapulário da vizinha distrai o desconforto de olhar para o teto do elevador.
    O humor está zen desde que substituiu o Amém pelo Assim Seja.
    Mas na bandeja de frios ainda há essa solidão em brasa.
    A confundir coração com pão e repartir para qualquer morto.
    Na repartição, ninguém sabe o seu nome.
    Pelo telefone, disfarça a fome de desligar.
    Engole a asa do frango no almoço como se prestes a voar fosse.
    Rasantes e depois ortopedista com método DeRose.
    Pediu para cair em si e estatelou.

    Tentar de novo é esperar sarar o roxo do terceiro olho.
    Olhar adiante é operar a vesgueira com as duas mãos.
    Acenar como quem chama menina dos olhos a brincar.

    25 de abril de 2013

    FUTILEZAS

    Como é que eu posso querer provar o que é verdade, se o fato já foi posto à prova feito roupa estendida? Sendo grande, a silhueta afrouxa, como a de quem não cabe em si. Os ajustes se fazem no espírito através do corpo, um molde, que mesmo banhado a baldes, não encolhem. Seu tamanho é único, o experimento é vário. Reveste todo um armário de peças, como se o nu fosse morrer fácil de frio, como se fossemos máquinas, como se aparelhássemos o roubo inteiro de um robô feito filhos cheios de fios soltos. Mas ainda estamos presos. Há marras. Querem a máscara por detrás dos cosméticos por detrás das peles, pelos e poros. Cômicos da tragédia fofocada nos salões de beleza. Arrancam-se apenas cutículas, deixam-se unhas roídas recobertas pelas de porcelana. Ficam todas umas bonecas! Usam perucas para não se apiedarem de suas carecas cancerosas. Existir a cura existe, porém insistem no elixir das repartições públicas ao lixarem suas carnes mortas, ao escovarem seus couros. Antes de evitar a queda do cabelo, poderia-se evitar de ir na cadência das décadas. Enquanto a decadência for moda, a essência permanecerá presa nos frascos de perfume e a dor se fará perceber pela falência múltipla dos órgãos. Odor de vivo é pior que de cadáver, quando já começa a cavar a própria cova com futilezas cotidianas. É-se sutilmente fútil.  Sentiu? Trocam receita de bolo envenenado entre dondocas, fazem propaganda de escarro novo, injetam o vício da compra nos pobres-diabos, empregam terapeutas, prostitutas ocupacionais do tempo alheio. Olho no olho nunca, só de entremeio. Pisca pisca desligado, atropelado na paquera. Sorria quando não estiver sendo filmado. Soslaio é fuga aos lacaios do sistema. Você foi propagado no ar em ondas curtas. A transmissão sanguínea foi suspensa pelos Testemunhos do Jeová. SHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSH

    23 de abril de 2013

    FRACTAL

    Igor Voloshin

    Desfragmentar o disco rígido
    Regenerar o pensamento mágico
    Humanizar a lógica num silogismo
    Tontear o verbo num circunlóquio
    Desmascarar o Fantasma da Ópera
    Operar o nariz do Pinóquio
    Impessoalizar a personagem
    Sendo a própria senda do psiquismo

    19 de abril de 2013

    EXPURGO


    Lágrimas ao mar
    Esgrima entre lâminas geladas
    Estalactite com estalagmite
    O dedo cria dor na criatura
    Tal Da Vinci a pincelar feridas
    Que, por sobre elas,
    Um homem comum jogaria sal

    Mal nenhum há em salgar o oceano
    O ser humano só recolherá o pranto
    Quando a ele bastar sua profundidade

    16 de abril de 2013

    MOBILIDADE

    PARA ILUSTRAR: Acima, Bono (U2) assume o personagem mais sarcástico do showbusiness mundial: Mr. MacPhisto, um capetalista envaidecido pelo sistema, recordista de audiência na ZOO TV tour, dos anos 90. É uma mistura entre Mefistófeles (o diabo para o qual Fausto vendeu sua alma, no livro de Goethe) e MacDonald's, sugerindo que é apenas mais uma invenção americana que tenta nos vender pela televisão. Abaixo, temos o Beatle Paul McCartney antes de se tornar Sir.
    ZINE MEU UNIVERSO #4 (2004)

    15 de abril de 2013

    PARA QUÊ?

    Rotten Theaters by Ivan Prieto
    Para que homens se existem pepinos?
    Para que os hinos se hão os louvores?
    Para que chão se o melhor do avião são os bimotores?
    Para que refletores se existe luz própria?
    Para que casar se o descaso de amor mais pleno é solidão?
    Para que ficar sozinho se o cachorro te lambe a falta?
    Para que esmaltar os dedos se teus medos fazem roer as unhas?
    Para que tantos segredos se posso violar o cofre?
    Para que ele sofre se vai morrer logo cedo?
    Para que velório se Deus já assoprou a vela?
    Para que cantar Brasileirinho se o canário é belga?
    Para que folga se o trabalho de estender a rede é árduo?
    Para que computador se a internet caiu e nunca mais voltou?
    Para que pular corda se Tiradentes foi enforcado?
    Para que dentes brancos se o molho virou tártaro?
    Para que tortura se sadomasoquismo é prazer?
    Para que tantos paraquês?

    14 de abril de 2013

    PINTURA

    Anton Marrast


    Pelada, tomava banho de tinta guache
    Com a ducha à mão pincelava o corpo
    Dava cor à clara tez empedernida 
    Com o púrpura despia seu branco
    Descobriu pureza na pele colorida