30 de abril de 2013

O CERNE



Descansar o pé no alpendre, pender a cabeça para dentro do livro.
Aprender a ser livre sem querer o certo, por nele já se estar.
Elevar a fé, balão a gás, aos céus até se encontrar, perdendo de vista.

Folhear revista dos anos passados em sala de espera é estar visionário.
O escapulário da vizinha distrai o desconforto de olhar para o teto do elevador.
O humor está zen desde que substituiu o Amém pelo Assim Seja.
Mas na bandeja de frios ainda há essa solidão em brasa.
A confundir coração com pão e repartir para qualquer morto.
Na repartição, ninguém sabe o seu nome.
Pelo telefone, disfarça a fome de desligar.
Engole a asa do frango no almoço como se prestes a voar fosse.
Rasantes e depois ortopedista com método DeRose.
Pediu para cair em si e estatelou.

Tentar de novo é esperar sarar o roxo do terceiro olho.
Olhar adiante é operar a vesgueira com as duas mãos.
Acenar como quem chama menina dos olhos a brincar.

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