Deprimi. Ao menos, uma boa notícia surgiu posteriormente. O doutor, que hesitou ao analisar ultrassonografias anteriores e contou o caso de sua mãe que morrera precocemente por temer entrar na faca, recomendou-me uma segunda opinião, indicando uma visita ao médico de sua confiança, que operava até criancinhas. Percebi o peso da sua sobriedade quando, ao adentrar a décima clínica, fui recebida com todo carinho - a começar pela recepcionista, que me pôs na frente de outros pacientes e me serviu capuccino. O gesto compensou todas as esperas indignas já vivenciadas em hospitais. Ela foi categórica ao afirmar: Fique tranquila, eu confio plenamente no homem com quem trabalho. Fui chamada à sala do meu salvador minutos depois de o novo papa ter aparecido na tevê. Ele me apertou a mão seguro de si, passou a vista nos exames, escutou e me auscultou, então me disse - enquanto rasgava o encaminhamento ao cateter: avise-me sobre a inauguração da sua bike ainda esta noite e venha me visitar anualmente. Sua pressão está normalíssima, 12 por 8. Tire essa ideia de estar doente da cabeça! Foi um dos dias mais confusos e felizes da minha existência. Não só por mim, mas por familiares e pessoas próximas terem tirado algumas toneladas de preocupação dos ombros. O sofrimento acabou. Até um guru me dedicou suas preces diretamente da Índia, humildemente. Renovei minha fé em Deus e em alguns poucos humanos, tenho precisado mesmo renovar a fé em mim, além de tudo, cuidar da meta e da física devidamente.
Estranhamente, era para eu me sentir mais forte depois desse pesadelo, mas a vida não nos poupa. Cada nascer de sol parece vir acompanhado de uma escuridão, um leão para domesticar e alimentar com ração cara. Esse felino feroz chamado medo tem afiado os dentes em minhas membranas cardíacas. Iniciei uma terapia para tentar encontrar o eixo em meio ao povo, dentro de mim, no sim que me confia. Tenho me enraivecido com quem se devota a criticar, duvidar, controlar, cercar minhas idiossincrasias. O telefone não me deixou escapar do isolamento, quando tentei provocar o sono cedo da noite. De um lado, uns preocupados comigo, de outro, outros preocupados consigo mesmos. Que bom que choveu para apaziguar as sensações, porque meu sangue rugiu, quis mandar à puta que pariu toda intervenção cirúrgia e toda intromissão espiritual. Mas, por hora, propagar o mal não é minha honoris causa.
Um comentário:
jai guru deva
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