Cathy Rose |
Uma cegueira saramaguiana adentrando o dia seguinte na madrugada com uma carga branca de hospital pintado a mãos de cal pesadas. Eu queria ter amanhecido em formato de pardal e voar por sobre todo o escombro sem respirar poeira tóxica. Não sei como consegui me soerguer mesmo sem asas, apesar da densidade petrolífica a embeber meu perispírito. Carreguei a boa notícia no bico como um galhinho de arruda.
Era a própria árvore, jacarandá. Ganhei maçãs rubras no rosto, face à felicidade do óbvio, pios e rodopios em amarelo vivo. Pude ver sem os efeitos do ópio. A cura pairou em minha residência, deu resistência ao corpo, leveza a outrem, antes avião pousado em fio de tensão alta. Cresci. Nesse dia, todos foram transmutados em pluma. Os desavisados quiseram amputar meu equilíbrio como se não houvesse salvação e agora conquistei mais duas pernas, mais linhas tortas, mais aortas férteis de todo sangue rícino. Meu coração. A duras penas, empedradas, destruí castelo e tijolei mansão.
Em breve, estarei quase pronta para uma outra que também sou eu. Tonta em tentação pelo que é reto, a mostrar para meu feto uma geração redimensionada em artérias e artimanhas, mantendo a pressão ideal. Auscultarei caules a saber com que Barros Manoel faz sua poesia e com que barro João faz sua casa. Ouve:
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