Frestas fechadas, iluminação bruxuleante. O ar se movimenta confinado do lado de fora. As paredes cochicham umas com as outras tumultuando a circulação dos pensamentos. Os livros se apertam nas prateleiras feito jovens dentro das festas de arromba, feito adultos em repartições públicas prestes a arrombarem portas. Ninguém se abre, as capas são duras, algumas edições de luxo, outras dignas do lixo. Cheios de histórias mal contadas, páginas arrancadas, capítulos corroídos por uma verossimilhança amarela. Hipócritas. Um louva-a-deus pousa sobre a cama, chama para o amor enquanto o lençol reclama em aspereza, com medo do bicho voador que com as mãos postas verdeja em esperança.
Janelas abertas, luzes acesas. A brisa propõe ao cortinado uma dança. Os vasinhos com as flores cor púrpura artificiais forjam a alegria sobre a cômoda. O comodismo da televisão desligada faz produzir o silêncio, não fossem os carros a grasnarem pela longa avenida abaixo do apartamento. Distância. O que antes era sofrimento, transforma-se em distração, recolhimento. Momento da colheita atenta dos frutos, com o descarte das maçãs apodrecidas ou violadas por lagartas. Estar perto da obra pintada reduz a sua real dimensão, é de longe que se perde o olhar das meninas dos olhos de todos os outros. Os laços de seus vestidos desatam enquanto elas brincam ao relento. Rodopiam, caem, choram. Fazem tudo para secarem as lágrimas, extraindo os ciscos da vida com os cílios das horas. Nada mais esperam.
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