27 de março de 2012

"O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus".



A frase que acena para esta postagem é do Oswald de Andrade, considerado o modernista mais inovador e rebelde de seu tempo, se de vanguarda, então além. Ela está no encarte do último disco da Legião Urbana, a banda de rock de preferência nacional, a mais proeminente em fervores líricos, eu diria, ao menos para mim. Confessadamente, faz parte do meu acervo pessoal em completude, haja vista possuir a discografia em CDs originais (raro K7 ou LP) apenas de dois grupos, os meus favoritos desde sempre: Legião Urbana e U2.

Mesmo tendo plena consciência de suas influências explícitas na música internacional (do pós-punk), por terem bebido na fonte de nada menos que The Smiths, The Cure e tantas outras, o valor expresso por suas canções acaba sobrepondo qualquer comparação meramente estética pela paixão suscitada em tantos jovens - os de ontem e os de hoje. Lembro de ter minhas audições constantemente interrompidas pelo meu irmão, na época, ao qual sempre devotei um grande respeito, não só por aquela concepção de ser o mais velho, mas principalmente por manjar muito bem desse assunto, apesar das implicâncias. Ele torcia o nariz em críticas ferinas ao gestual Morrisseyniano do Renato, aos timbres de guitarra similaríssimos aos de fulano e beltrano, os quais passei a garimpar por curiosidade quase instantânea. Isso nunca tirou os méritos de ninguém, pelo contrário, continuei gostando com lucidez e, melhor ainda, com o bom gosto estendido a outras searas musicais.

Especialmente pelas letras de Renato Manfredini Jr., o Russo, é que me sinto sensibilizada, tornei-me mais humanizada e amadurecida dos meus onze anos pra cá. Não seria tanto se revelasse que meu gosto pela escrita se aflorou a partir daí, na adolescência. Abastecia-me de encantamentos em minha introspecção naquela época, viajando nas melodias, brincando de tocar teclado no jardim da minha antiga casa ou mesmo cantando trancada no quarto, fazendo performances para mim mesma. Ensimesmada nem tanto, levando em conta que compartilhava o som alto com os vizinhos e alguns deles respondiam com mais Legião da janela. Era bonito de se ver. Período deliciosamente solitário, a não ser quando ia para a escola e compartilhava discos, álbuns de foto dos ídolos, revistas ShowBizz, cadernos com poesia e rabiscos.

Os tempos de escola chegavam ao fim. No terceiro ano do ensino médio, pré-vestibulanda ainda, conheci uma menina mais tímida do que eu. Ela se chamava Natália, era brilhante, o primeiro lugar geral e aquele blá-blá-blá todo que faziam em torno dela a incomodava veementemente. Vêm à mente agora as bochechas dela ficando cor cereja por tudo isso... Sempre soube que o que mais a instigava era falar sobre rock e livros com alguns poucos colegas, senão falar, era mais de ouvir. Afinidades, exceto pelos conflitos interiores pesadíssimos com os quais ela se defrontava quando eu emprestei o disco A Tempestade ou O Livro dos Dias, este aqui do link disponibilizado na íntegra.

Eu me culpava por ter feito isso naquele momento de tamanha crise, porque julgava as canções por demais tristes. Natália suicidou-se e a atmosfera dessas músicas me marcou deverasmente. Reouvi-las hoje já me traz frescor à alma, pois percebo mensagens bastante positivas cantadas por Renato nas entrelinhas, por mais que este álbum tenha selado a sua morte (favor considerar aqui a sua partida como uma temporada pela eternidade e um rico aparato para esta juventude).

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