Tem fuligem no meu prato, vejam! Eu que moro à beira da avenida truculenta de carros e oficinas, recebo o recheio gratuito no estômago inalador de pretidão asfáltica todos os dias. Asma não tenho ainda, embora a miopia causada pela incidência solar absurda acrescente uns graus de vidro apoiado no osso do nariz, com volteios no aro atrás da orelha surda de poluição sonora. Sirene de políciambulância, alarme por assaltos, caixas de som estrondando longe. A vibração às vezes é sentida dentro do corpo, dança-se involuntariamente. Coração da urbe a bombear sangue pelas artérias das ruas sem enchentes. Ratos humanos catam lixo por falta de trabalho e esmola, escola. Escolha indigna do acaso. Explosão demográfica entre as pernas da parideira de meninos sem fim. Um fim que pouco justifica os meios. Vive-se para morrer de incontáveis maneiras ou já se nasce morto, embrulhado em folha de jornal a ser arremessada no aterro, no vaso, descarregado feito o vômito do alcoólatra no frio do chão. O mesmo coldchão em que se dorme. Osso duro de roer. Não sobra nem o tutano. Costelas à mostra, África, Haiti do Brasil, mil mil mil mil gastos em copa do mundo, carnaval, impostos de gasolina e rios de salários aos politicamente corretos da corrupção. Fico doente por nada! Picharam o muro do Berlim Tupiniquim, nem para derrubá-lo têm forças, a não ser para derrubarem uns aos outros nas poças da indignidade assumida. Marginais somos nós agora, postos às grades dentro de casa, sem poder locomovermos para o centro, que de madrugada, tarde, noite, manhã, sempre é hora de assalto. Mãos ao alto para rogar aos céus a liberdade e a segurança. Soldados bons samaritanos se vendem, batem nos inocentes, humilham em abuso de poder. Nós à mercê do caos, do sequestro, do estelionato. Vejam, agora tem sangue no teu status! Extrato de tomate do enlatado a servir de molho para a massa dos meis de comunicação que mostram a parcial realidade crua. Perigo, nova forma de censura: não saia à rua... É para a sua segurança!
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