26 de dezembro de 2012
25 de dezembro de 2012
WAVE
O mar, filho do céu sangue azul, nasceu com cabelos crespos
No berço a embalar sonhos de marés, cresceu com as ondas
No berço a embalar sonhos de marés, cresceu com as ondas
Amou as mais belas sereias ao passear suas espumas à beira
Trouxe muitas conchas, algas e estrelas espraiadas pela areia
Deglutiu sóis e luas, afogou náufragos, alimentou pescadores
Mas nunca deixou de ser o que é transformando a si mesmo
Mar é motor, senão, mar morto é
20 de dezembro de 2012
QUIROMANCIA
Palmistry, 1908. |
A palma é livro, carrega manuscritos à caneta ponta fina. Assina sua sina aqui. Sai a perfurar os sulcos, a indicar caminhos percorridos e rumos a serem traçados, poro a poro. Deixa impressões digitais em copos, corpos e maçanetas, tem a chave para a vida, baú revirado ou trilha secreta. Ilhados pelo destino. Feitura toda de tricô divino, por vezes sangrando pela falta do dedal mais adequado para o apontamento dos acasos. O passado agulha o presente que pressente um futuro costurado à lembrança do que já se reviveu noutro plano. Quando se está sem planos há clarividência às mãos lavadas várias vezes. TOC ou toque repentino. No fim, o nanquim de se ser ainda permanece. Quantos anos, amores, filhos terá a mão? Por quantos volantes, lemes, guidãos os dedos passarão? Punho livre, magia de cigana, soco no vento? Quem lê, não se engana. Tudo é uma questão de reflexologia.
8 de dezembro de 2012
ATROPELAMENTO
Um caminhão porte abissal passou por cima de mim. Deu voltas insistentes com seus grossos pneus sobre o meu coração de sapo, inchado na beira da estrada. Papoquei. Doeu tanto assim porque sobrevivi. Entreguei-me sem entregar de todo, por saber das opções que a vida me dava: inclusive a morte. Senti cada fisgada e ardor com as camadas de sal derramadas de sua carga sobre o meu dorso em viva carne, que o choro, por ser tanto, amorteceu metade do peso do momento. Passageiro. Caía de cansaço, dormia vencida pelo sonho de levantar melhor no amanhã, como um sol que nunca falha. Veio a tardar. Quando acordava, a sensação era pior, cada vez mais dilacerante. Os dias seguintes não vinham como uma promessa de cura. Precisava de remédios que não existiam para o sentimento mais real de todos. A paixão não pressupunha lenitivos. Não podia ser amor, eu não podia amar - era o que o motorista me dizia convicto. Ele queria me ver roxa, sem ar, até o músculo voltar à alegria, para passear entre meus átrios novamente. Mais do que se entreter com meu sofrimento, o guia não esboçava sorrisos de vingador ou encenações de vigarista. Ele parecia querer me dar um aviso lancinante, que ia além dos seus anseios primordiais. Examinava meu urro animalesco sem regojizo aparente, mas com uma frieza voraz.
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