Se bem me lembro, há dez anos tive um sonho que me deixou intrigada por bastante tempo. Cheguei a registrá-lo em cadernos antigos para não deixar escapar à memória, entretanto hoje não saberia dizer o paradeiro dessas minhas anotações adolescentes, o que poderá desvirtuar pela falta de detalhes a minha descrição.
Encontrava-me em um lugar escuro e emaranhado de gente. Parecia uma larga sala de espera de um consultório médico lotada. Pude identificar uns poucos rostos conhecidos, a maioria eu jamais havia encontrado nesta vida. Todos pareciam estar cientes do que iriam fazer, do que estava por acontecer. Eu já me sentia perdida, tentando me aproximar de quem era familiar. Passava por entre as pessoas para ver se achava uma saída e, também, o motivo de estar ali. Até que vi uma intensa luz branca a brotar em meio àquela penumbra, como se alguém abrisse uma porta. Ao longe pude enxergar com dificuldade o que parecia ser um médico ou o seu assistente a procurar pelo próximo paciente a ser atendido, quando ouvi chamar meu nome. As pessoas, então, abriam passagem sorrindo para mim.
Alcancei a entrada iluminada e fui encaminhada a uma espécie de cápsula. Naquele ambiente estavam todos de branco, quando não trajados de verde-claro, com óculos de proteção transparentes e luvas. Tudo impecavelmente limpo e claro. A atmosfera era leve e esfumaçada como se houvesse uma propagação de gelo seco. Deitaram-me em um aparelho como que feito de aço ou alumínio, extremamente frio. Mergulharam a minha perna direita em alguma substância até ficar adormecida por completo. Em seguida, examinaram a minha panturrilha, fazendo uma discreta incisão a fim de depositarem com um tipo de pinça uma peça pequena e retangular, tal uma placa metálica na minha carne. A microcirurgia ocorreu sem dores nem sangramentos, apenas tive uma leve sensação de letargia, como que anestesiada por uma hipnose muito sutil.
Quando despertei, senti-me aliviada, o espírito tomado por uma leveza inexplicável. Especialmente, porque nessa época sofria com dores terríveis em minha perna direita, poucos centímetros mais curta que a outra. Cheguei até a engessá-la por ter sofrido uma torção no pé que me levou a quebrar o quinto metatarso. Ademais, à essa experiência, que identifiquei por sonho e relatei a poucas pessoas, alguns chamaram-na de abdução por seres extraterrestres, outros de operação espiritual com entes de outros planos me ofertando essa assistência médica. Todos me questionaram por que ainda não tive a curiosidade de tirar uma radiografia dos membros inferiores.
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