3 de março de 2011

Lacto-expurga

Dia desses, falando sobre dieta com um amigo, este aconselhou saudavelmente que eu deveria me prover bem mais de cálcio que outrora. É que tendemos a perder força nos ossos a partir dos vinte anos de idade. Compreendido isso, esta madrugada resolvi preparar um copo de leite sem açúcar, com um pouco de achocolatado antes de dormir. Enquanto o bebia, resolvi abrir ao acaso a biografia mais recente de Clarice, escrita por Benjamin Moser, justo na página 205 do capítulo 14 - "Trampolim da vitória", quando ela rejeitava qualquer comparação com aquele famoso existencialista francês:


Minha náusea inclusive é diferente da náusea de Sartre, porque quando eu era pequena não suportava leite, e quase vomitava o que tinha de beber. Pingavam limão na minha boca. Quer dizer, eu sei o que é náusea no corpo todo, na alma toda. Não é sartriana.

Há sincronicidades entre literatura e vida. Quanto à bebida láctea, via de regra, hoje consigo tomá-la sem náuseas pela consciência do bem cuidar em si. Eu que aprendo aos poucos a ser minha própria mãe, sigo amamentando meus momentos, enfim. Mas alguma náusea do mundo ainda toma conta de mim, só não sou dessas de provar o interior da barata como resultado de uma busca filosófica abstrata:

Por que eu teria nojo da massa que saía da barata?, pergunta-se G.H. Não bebera eu do branco leite que é líquida massa materna?

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