10 de janeiro de 2009

Desmama terna

Eu lá nasci pra esperar. E olha que eu cumpri os nove meses dentro da genitora que optou por cesariana. Minha maternidade, se virá, será tardia e normal. Assumo plena de certeza porque me precavejo sempre contra crianças. Enquanto não deixo um bendito fruto do meu ventre para o mundo, vou experimentando o quanto posso esses améns mundanos. Prazeres. Desejo: tudo o que uma barriga pode matar na mulher, assassinando mais ainda o lampejo do homem. Um parto priva, fora de hora, o participar intenso do mundo, pois este passa a girar em redor de um útero ocupado e do novo ser vivente então exposto. Surge a posse, as perdas, os bonequeamentos sobre o bebê, a ânsia inconsciente de torná-lo o que nem ousamos ser. Isto na maioria das vezes. Por isso eu quero ser o que puder, o quanto necessitar, a fim de não despejar no seio da minha criação rompantes de criador. Não preciso de um rei na barriga. Não almejo frustrar vidas, quanto mais a minha própria. E quem não se condoeu, doou-se, fala maravilhas acerca da pró-criação. Só que pouco me entusiasma ouvir a choradeira dos filhos de chocadeira pelo mundo das dores, Maria! Nem o menino Jesus se salva, reza ele que salvou toda a gente, embora eu acredite no Pai mais do que tudo. Prefiro ser má e terna a ser boa Amélia. E se for dar a luz, que seja a de uma lanterna!

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