20 de agosto de 2014

ALIMENTÍCIA

Sem reservas, humores ácidos alojam-se cedo no estômago
Seio com chocolate, desejo de grávida: meio-âmago ao leite
Deite comigo, come desse pão semeado em campo de trigo
Há muitas estradas para um só coração, maçã do amor real
Mordida no bolo e solo de balé, derreteu picolé nesse forno
Nunca soube cozinhar, queimo dedos por qualquer coisinha
Assobiar, aprendi com chaleira cheia, fervendo água do mar
No almoço, jantei bom frango à passarinha e de galo cantei
Em lua de mel, sonho de valsa enquanto as taças enroscam
Faz papel de presente, presença garantida em nossas casas
Casca de noz, o universo inteiro ali, o fruto ainda é distante

12 de agosto de 2014

HORA DO RECEIO


Quando pequenos, desconhecemos o medo das coisas grandiosas. Até que alguém diga para termos cuidado e então nos perdemos. Acuidade visual zero. Passamos a tatear o segredo feito hábito. Trememos. Transferimos o frio dos poros à barriga, preferindo repousar em líquido amniótico, caoticamente indefesos. Hoje, estamos todos velhos. As pegadas permanecem desenhadas no mesmo labirinto. Os princípios se tornaram regras insidiosas que não valeram de mais nada, ao final. Os vícios despigmentaram cabelo, fizeram-no cair da alcova à cova.  Boa viagem! O nado que a vida cobra, por hora, a maré nos devolve em oferenda: coragem.