10 de janeiro de 2011

Sobrevôo da existência

Em passos de asa, vôo
Mesmo assim sem liberdade
Uma ave, uma Maria
Que não sabe se vivo ou morro

Eu sinto saudades não sei do quê
Choro, afobo, grito, amanso ou só rio
Que escoa para o mar da sorte
De ser o que me quer vencer

Voltarei enquanto o rei não voltar à barriga
Dou de ombros a qualquer nado de costas
Sem abanar o rabo, esnobo a vida

Vem me provocar se não me gostas
Gasta-me menos a dor da ferida
Mãos postas na mesa: agora rezo

Um Deus feito de céu agora me guia
Ele é azul, sem olhos, manco e perfeito
Feito da esquizofrenia de vários deuses

Eu acredito na noite mais que no dia
Quando as cortinas de breu se abrem



















Paola Benevides

1 de janeiro de 2011

Identidade

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"