Dentro há o centro do delírio. Redes e moinhos deitados no eixo. Nunca dê lírios a quem está vivo, dê vários. O copo de leite cheira a filho morto dentro do armário. Roupas deixadas de lembrança à casa, retalhos. Pisei caco de vidro do vaso quebrado. Continha água para crescimento, mas havia matado o excesso. Eu me excedo tanto tarde. Dê mais. Beba mais desse líquido e então se sentirá bem. Beba, beba tudo até o mijo. Ele esteve enjoado da vida que não deu. Precisa coragem. Dois remos. Um barco. Atravessará a terceira margem do riso quando formar um lago com todas as lágrimas. As que pingaram no travesseiro, no solo, na pia, no braço. Aquelas que as pessoas viram e desviraram na tua cara. As choradas encolhidas no banheiro. Eu já quis comer as maçãs do meu rosto, rubras de desespero por forçar a elasticidade dos cantos da boca, retirar as minhas cascas com navalha. Sangria interior: se não cura, extravasa. Jorra tanto que seca por hora, periga voltar. O tempo vai fechando, quanto mais nuvem, mais cura. É algodão embebido no pranto da lua, esburacada de tanto ácido posto para fora. Dá língua feito criança ao remédio amargo, peito de madrasta. Vai cansar do próprio espasmo e se tornar espanto. Após tanto, virá apático feito velho, coma deduzido. Sentirá toques na dormência. Já percebo meu lábio caindo. Foi de falar mal dos que pintam o céu, de beijar o chão que papisa passa, de comer beligerância na porta da igreja entre pipocas e mendigos. Aqui não tem vaga. Trabalho para preencher o bolso do tempo, mas não tenho troco. A troco de quê? De quebranto. Não acredito nas evidências que sinto. Sou um burro humano alado, alheio ao relinche do mundo. Coice à foice rasga o casco. Ferradura, fogo, marca a rés com sadismo. Masoquismo é tatuagem. Meu corpo está limpo: sou boneco de piche. Puxo o pé, coxeio, engasgo. Nem tenho abraços de polvo. Também falta-me cabeça. Qual pedaço possuo? Dedos apontando lápis, unhas de fome, calcanhar de aqueles que caminham na direção arquitetônica moderna do universo em quadrados.
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