Dentro há o centro do delírio. Redes e moinhos deitados no eixo. Nunca dê lírios a quem está vivo, dê vários. O copo de leite cheira a filho morto dentro do armário. Roupas deixadas de lembrança à casa, retalhos. Pisei caco de vidro do vaso quebrado. Continha água para crescimento, mas havia matado o excesso. Eu me excedo tanto tarde. Dê mais. Beba mais desse líquido e então se sentirá bem. Beba, beba tudo até o mijo. Ele esteve enjoado da vida que não deu. Precisa coragem. Dois remos. Um barco. Atravessará a terceira margem do riso quando formar um lago com todas as lágrimas. As que pingaram no travesseiro, no solo, na pia, no braço. Aquelas que as pessoas viram e desviraram na tua cara. As choradas encolhidas no banheiro. Eu já quis comer as maçãs do meu rosto, rubras de desespero por forçar a elasticidade dos cantos da boca, retirar as minhas cascas com navalha. Sangria interior: se não cura, extravasa. Jorra tanto que seca por hora, periga voltar. O tempo vai fechando, quanto mais nuvem, mais cura. É algodão embebido no pranto da lua, esburacada de tanto ácido posto para fora. Dá língua feito criança ao remédio amargo, peito de madrasta. Vai cansar do próprio espasmo e se tornar espanto. Após tanto, virá apático feito velho, coma deduzido. Sentirá toques na dormência. Já percebo meu lábio caindo. Foi de falar mal dos que pintam o céu, de beijar o chão que papisa passa, de comer beligerância na porta da igreja entre pipocas e mendigos. Aqui não tem vaga. Trabalho para preencher o bolso do tempo, mas não tenho troco. A troco de quê? De quebranto. Não acredito nas evidências que sinto. Sou um burro humano alado, alheio ao relinche do mundo. Coice à foice rasga o casco. Ferradura, fogo, marca a rés com sadismo. Masoquismo é tatuagem. Meu corpo está limpo: sou boneco de piche. Puxo o pé, coxeio, engasgo. Nem tenho abraços de polvo. Também falta-me cabeça. Qual pedaço possuo? Dedos apontando lápis, unhas de fome, calcanhar de aqueles que caminham na direção arquitetônica moderna do universo em quadrados.
26 de julho de 2010
23 de julho de 2010
O RETRATO FIEL
Não creias nos meus retratos, nenhum deles me revela, ai, não me julgues assim! Minha cara verdadeira fugiu às penas do corpo, ficou isenta da vida. Toda minha faceirice e minha vaidade toda estão na sonora face; naquela que não foi vista e que paira, levitando, em meio a um mundo de cegos. Os meus retratos são vários e neles não terás nunca o meu rosto de poesia. Não olhes os meus retratos, nem me suponhas em mim.
Gilka Machado
20 de julho de 2010
Endelicadeia-me, mas presa não estou à nada, a não ser ao teu abraço a livrar nossa vertigem dessa poção amarga. Vida: se a bebo errado, tenho taças de alma fundida, as paredes quebrantadas. Mas me reconstituis o sorriso quando me tocas, acalma. Teu fogo brando, chama azul e me chamas à cama para uma conversa incomum, uma controvérsia, não só a uma trepada. Porque é entrega, é a flor na minha porta, é teu talo que me adentra e derrama semente sem dor. Quero tua língua solta em minha mama, quero o teu ereto-entranha, quero e tenho tudo no tempo que nos falta: saudade. Dormes na minha casa quando está em mim. Sonho na tua morada quando sou em ti. Por vezes, minha estrela ficou carente e afagou todo um céu com o bem amar. Sabes afogar meu corpo em rosa rasa, dando-me banhos de pétala na água. Placidez profunda. E quando estou estranha, aprendes: solta sem mais me jogar tão longe! Esconde teu olhar ante minha explosão, só explode canção comigo, entre quatro paredes. Eu me contradigo e me contraio, por isso que minha boca é melhor no teu beijo. E meus anseios melhores no teu desejo. Vem e me ama!
18 de julho de 2010
Reamar alto
15 de julho de 2010
Há temporal
6 de julho de 2010
Liquidada
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