Vivo por dentro do cansaço. As paredes descascam quando suo, encostada no canto. Mas ainda vou descobrir um jeito de acordar, dar cor por dentro. Às vezes pareço aquelas casas cheias de infiltrações e ranhuras, cobertas com tinta ordinária. Ando realmente tão cansada, que minha aparência se reflete no desleixo. Estou no banheiro de mim. Carrego azulejos quebradiços na cara, desenhadas florezinhas espinhentas no nariz. Lavo o espírito às ocultas dentro de quatro paredes de vidro cascorento. Embaçam com o vapor dum frio súbito. Há poucos meses não fico nua das carnes a outro. Desejaria ver o brilho do homem-sexo desenhado em minhas entranhas perpendiculares. Quantos lares terei? Um na terra, outro no céu, mais algum na mulher que me pariu e outro de frente para o mar sem fim do mundo. Tanto quis acabar com tudo, que nada nadei, morri na praia do futuro. Serei uma defunta? Há quem reze por mim enquanto durmo. Senti, mental eu sou. Raciocinava quando agir mais deveria. Cobro dos meus próprios dentes um sorriso, pois mesmo que aqueles lençóis da noite me cubram, estarei corroendo os panos do passado. Você já quis que o tempo parasse, mas sem estar feliz, indiferente a tudo? Fico por aqui...
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