27 de janeiro de 2007

Previsionária

Das coisas que não fiz, o que eu mais gostaria e vou realizar, já está sendo preparado: mais viagens, artesanato em exposição para ledores, novos encontros, maior acúmulo e repassamento de cultura, etecéteras. O resto não posso adivinhar, embora tenha uma intuição fortíssima algumas vezes, um mal feminino que não resvala no vulgar. Ainda bem, porque se o futuro fosse óbvio, morrer-se-ia de tédio pela ausência salgada do mistério. A surpresa nos motiva a adocicar a parte insossa do cotidiano. Só que no fundo há uma urgência confessa de viver com intensidade, como se o universo inteiro fosse deteriorar e eu tivesse que preservar minhas experiências. Sem egocentrismos, faço bastante compartilhando com os outros como agora, embora o tempo presente pressinta que passa a ser passado milésimos de segundos depois. Segundas intenções do nosso âmago-deus ditando a necessidade de se querer grande parte do tudo. O todo não se resume na gente, mas é aí onde está a onipotência imperfeita humana.

Uma hora desejo amar demais, outra hora desejaria ter amado menos, sem arrependimento, embora a busca por prazer quase imediato seja meta de vários, por isso o sofrimento indesejável. Algo que não conseguiria suportar no momento seria a clausura, em contrapartida, almejei solidão até atingir a maioridade. Impossível definir mudanças e, oscilar a meu ver significa ser bem mais que antes, resguardando a peculiaridade do que já era. Processo doloroso o de existir, entretanto, se não conhecêssemos a dor, mal entenderíamos a felicidade. É tudo invenção permeando realidade, até si próprio. De que adianta condenar o mentiroso se a verdade não possui dono? Lendo muita ficção, aprendi em um conto de autor desconhecido na minha memória que um filhote de girafa ao nascer sofre uma queda de brusca altura, embora seja exatamente essa queda a maneira de se preparar à vida. Bem por aí... Tem gente que só tem percepção maior das coisas quando leva umas fortes pancadas carna-espirituais.

Quereria eu nascer de novo? Por que não, se for possível? Reparar erros jamais, acertar além. E, se este corpo com alma for o único copo com água, deveria dar de beber mais aos outros que a mim mesma. Não há nada mais displicente que se afogar na própria ilha. Prefiro mergulhar e deixar-me banhar sutilmente do que ser imprópria para banho. Somente mar purificado purifica. Eu suo a camisa de árduo trabalho e de também ócio, visto a malha original do espírito, evitando malhar o próximo de forma preconceituosa. Eis os mares os nossos fluidos ora revoltos, ora saciadores da fome pesquira, ora turvos, ora sangrados, ora felizes. Quem sou eu? Respondo com o que serei nos próximos cinco minutos, ora! NADADOIRA.

19 de janeiro de 2007

Eu apenas SOUL: MIMguém ★ ALLguém!

O rosto acho que é de ângulo plenilunar, dotado de cabelos claros, olhos melancólicos e míopes. Uso uns óculos para identificar pessoas distantes. Quando sem lentes, assumo um ar antipaticamente nipônico, apertando as pálpebras para tentar vislumbrar a quem neguei aceno.

A boca é um tanto calada, prefere cantar, comer, beber e beijar. Morde também, já que mal ladra, mas sou vacinada, tenho os dentes polidos e o sorriso de Monalisa quando era menina. Doce, doce.

O nariz gosta do cheiro da grama, de expirar CO2 em favor da prática fotossintética ante a poluição de agora. A tendência é piorar. Li O PERFUME, de Patrick Suskind e recomendo.

Os ouvidos são aguçados para agradáveis sonoridades. Sou semi-surda quando há massa de vozes entrecortadas por carros velozes com suas caixas berrantes.

O corpo é mediano. Altura: 1m62cm, Peso: 54kg. Dois braços fortinhos, sendo a mão preferencial criadora canhota. As pernas grossinhas, sendo a direita meio controversa. ETs introduziram nela um microchip enquanto dormia. Fui abduzida! Quebrei o pé, engessei até o joelho.
__________________________________________________
http://silenciosepalavras.blogspot.comSilêncios&Palavras
__________________________________________________
Saindo do plano físico e rasgando os rótulos da aparência, meu astral é alto, apesar da timidez me projetar uma áurea taciturna certas vezes.

Há quem me ache possuidora de veia cômica. Tática tipicamente cearense para disfarçar a Macabéa de A Hora da Estrela nossa. Ah, Lispector, tu me entendeRIAS.
Prazer então, tu tal que não me conhecias. E aos que estão no processo do conheSER, um olá!
SOL, apesar das cavernas.

14 de janeiro de 2007

O Nosso Livro

"Deixa-me dizer-te, meu caro, pode bem acontecer que vás através da vida sem saber que debaixo do teu nariz existe um livro no qual a tua vida é descrita em todo o detalhe. Aquilo do qual nunca te deste conta antes, vais relembrando aos poucos, assim que comeces a ler esse livro, e encontras e descobres... alguns livros tu lês e lês e não lhe consegues encontrar qualquer sentido ou lógica, por mais que tentes. São tão "espertos" que não consegues perceber uma palavra daquilo que dizem... Mas esse livro que talvez esteja logo debaixo do teu nariz, tu lês e sentes-te como se tivesses sido tu próprio a escrevê-lo, tal como - como é que hei-de dizer ? - tal como tivesses tomado posse do teu próprio coração - qualquer que este possa ser - e o tivesse virado do avesso de forma que as pessoas o consigam ver, e descrito com todos os detalhes - tal e qual como ele é! E como isto é simples, meu Deus! Porquê, eu próprio poderia ter escrito este livro! Porquê, de facto, porquê é que eu próprio não escrevi este livro!"

Fiodor Dostoievski, in Pobre Gente

Meu livro está sendo escrito a partir das linhas tortas de Deus. Sou uma criatura criadora de rastros viventes desde o pó inicial e, até o pó derradeiro escuso sob tapetes cósmicos serei eternizada pelos registros nos Anais flatulentos das Bibliotecas. Não sei de ti, mas tenho um segredinho sujo: prateleiras cheias de Traças me provocam gases e escrever me reproduz igual alívio. Estranha logorréia. Eis porque meu vício é visceral, vem das entranhas tal o filho que porei à luz algum dia a me expandir nas gerações futuramas. Que a genética não falhe, ensine relevâncias e perfume leituras nem que sejam em iPods ultra-tecnológicos, sem perder tanta lógica na Pós-modernice aguda. Não deixem de me reescrever. Aguardo cartas, e-mails e conversas ao pé do olho. Nosso maior tesouro: vivências. Dói a realidade feito soco na barriga. Mas sem prisões, esta é minha Lei do Ventre livre!