Das coisas que não fiz, o que eu mais gostaria e vou realizar, já está sendo preparado: mais viagens, artesanato em exposição para ledores, novos encontros, maior acúmulo e repassamento de cultura, etecéteras. O resto não posso adivinhar, embora tenha uma intuição fortíssima algumas vezes, um mal feminino que não resvala no vulgar. Ainda bem, porque se o futuro fosse óbvio, morrer-se-ia de tédio pela ausência salgada do mistério. A surpresa nos motiva a adocicar a parte insossa do cotidiano. Só que no fundo há uma urgência confessa de viver com intensidade, como se o universo inteiro fosse deteriorar e eu tivesse que preservar minhas experiências. Sem egocentrismos, faço bastante compartilhando com os outros como agora, embora o tempo presente pressinta que passa a ser passado milésimos de segundos depois. Segundas intenções do nosso âmago-deus ditando a necessidade de se querer grande parte do tudo. O todo não se resume na gente, mas é aí onde está a onipotência imperfeita humana.
Uma hora desejo amar demais, outra hora desejaria ter amado menos, sem arrependimento, embora a busca por prazer quase imediato seja meta de vários, por isso o sofrimento indesejável. Algo que não conseguiria suportar no momento seria a clausura, em contrapartida, almejei solidão até atingir a maioridade. Impossível definir mudanças e, oscilar a meu ver significa ser bem mais que antes, resguardando a peculiaridade do que já era. Processo doloroso o de existir, entretanto, se não conhecêssemos a dor, mal entenderíamos a felicidade. É tudo invenção permeando realidade, até si próprio. De que adianta condenar o mentiroso se a verdade não possui dono? Lendo muita ficção, aprendi em um conto de autor desconhecido na minha memória que um filhote de girafa ao nascer sofre uma queda de brusca altura, embora seja exatamente essa queda a maneira de se preparar à vida. Bem por aí... Tem gente que só tem percepção maior das coisas quando leva umas fortes pancadas carna-espirituais.
Quereria eu nascer de novo? Por que não, se for possível? Reparar erros jamais, acertar além. E, se este corpo com alma for o único copo com água, deveria dar de beber mais aos outros que a mim mesma. Não há nada mais displicente que se afogar na própria ilha. Prefiro mergulhar e deixar-me banhar sutilmente do que ser imprópria para banho. Somente mar purificado purifica. Eu suo a camisa de árduo trabalho e de também ócio, visto a malha original do espírito, evitando malhar o próximo de forma preconceituosa. Eis os mares os nossos fluidos ora revoltos, ora saciadores da fome pesquira, ora turvos, ora sangrados, ora felizes. Quem sou eu? Respondo com o que serei nos próximos cinco minutos, ora! NADADOIRA.