2 de dezembro de 2006

MUSICAL

Tive a graça de crescer num meio culturalmente instigador, o que me levou a apreciar música com muita paixão, sem olvidar o espírito crítico ante melodias e letras as mais variadas. Desde minha pré-estréia no mundo, ouvia fetal sons extra-uterinos que meus pais punhavam. Além de um radinho à pilha tocando sobre a barriga, minha mãe cantarolava canções de ninar tradicionais e inventadas. E foi assim até depois do parto, quando então parti com minhas próprias perninhas a bailar e a bulir na vitrola do papai, que colecionava vinis. Entremeada à fase infantil dos anos 80, com Xuxa, Balão mágico etc. Passei a me entusiasmar com o Rock and roll. Comecei com Elvis, The Beatles, Raul Seixas, descambando para a MPB de Chico e Vinícios em seguida, na recente adolescência. Saí de um colégio pequeno, tendo completado o primário, ingressando numa escola maior. Lá me apresentaram Legião Urbana enquanto me animava com os Mamonas Assassinas. Sofri imensamente com a morte destes que acabavam por se tornarem meus ídolos em pleno auge de carreira. Em 1996, um acidente aéreo mata a mais iventiva e cômica banda de Rock nacional, levando também no mesmo ano o grande poeta Renato Russo, vítima de complicações existenciais soropositivas. Adquiria compulsiva ou morbidamente todos os discos, revistas em que eles estivessem, escutando, lendo sem cessar. Foi nesse período que meu interesse em tocar instrumentos musicais se alargou, que minhas primeiras poesias brotaram sob influências desses mestres, cada qual para uma fase específica de minha vida.

Posso lembrar com excitação do meu ingresso em shows, em festivais. Por volta dos 13 anos de idade é que me aproximo de um palco, de uma multidão pela primeira vez. Fui à apresentação dos Engenheiros do Hawaii, que por acaso a Plastique Noir, (banda gótica cearense eleita a melhor do país, dentre as melhores da Alemanha) da qual meu irmão é compositor e guitarrista, abriu seu show este fim de semana. Atualmente o cenário rockeiro local e autoral me motiva a explorar novos horizontes, concomitante meu apego a grupos internacionais consagrados e a descoberta de outros estilos. Tal bom velho vinho, amadureci minhas preferências musicais. Apaixonei-me por Sinatra, música clássica, cheguei ao Metal, ao melódico, voltei ao Pop da infância com Madonna e Michael, degustei a New Age transcedental de Enya, Era. Comprei gaitas, improvisei Blues, fui seduzida pelo Jazz, embrenhei pelas vias progressivas até cair em algumas Raves, nessa salada Alternativa hodierna. Os irlandeses do U2, inclusos na categoria dos meus ídolos vitais, a despeito dos demais, já permanecem eternizados em meu ser. [Breve dedicarei um post sobre o que é ser fã de U2 - o maior fenômeno mundial após a Betlemania!] Só não sou tão eclética a ponto de me enveredar por modismos passageiros e ocos, tais certos grupos de forró e pagode. O que não posso olvidar aqui são nossas raízes autênticas, do conteúdo vasto de um Luiz Gonzaga, de um Cartola, de Choro ou Bossa ou Samba do bom que é capaz de ir além do que os gringos querem ver. Encerro meu discurso com uma definição lírica para o que é, verdadeiramente, MÚSICA: costituída de uma matemática sensorial em que agrupamentos harmônicos são capazes de devassar, além dos ouvidos mais atravancados, os poros dotados de extrema sensibilidade. Quase sempre me pego numa espécie de transe ao ouvir certas canções. Há sonoridades que nos impelem ao riso fácil, à melancolia, a um fechar de olhos e arrepios epidérmicos capazes de nos transportar a um outro plano. Embora se trate do fruto da mais pura inspiração humana, existem teorias angélicas que rezam ser esta Arte instrumento de Deuses cantantes para nos aproximar do absoluto. Seria perfeição? De livre, ficou presa no paradoxo do que é babelicamente compreensível, haja vista ter-se gosto para tudo. Músicas para nascer, para celebrar aniversário, matrimônio, para lembrar certa pessoa ou ocasião especial, para tocar em velório e no aquém, - quem sabe? - Ad Infinitum, na eternidade!

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