Eis que completo meu primeiro ano como yogini. Eu que buscava alinhar corpo, mente e espírito em uma única prática, iniciei uma feliz jornada para dentro de mim. O exterior reflete. Quando as pessoas pedem definições para Yoga, a resposta recai no sorriso, já que se trata de uma experiência muito particular, vasta em possibilidades positivas. Ao perceberem minha satisfação, logo despertam o interesse, então tento traduzir do sânscrito o que temos por "união". Costumo associar este termo ao significado etimológico de religião, do latim religare, o qual nos pode transmitir uma ideia universal de coexistência. Do contrário e afortunadamente, não há qualquer ligação com este conceito ocidentalizado, mas se trata de uma conexão muito maior à consciência: seja corporal, através dos asanas (posturas), seja energética, na conjunção harmoniosa entre tudo que é vivo. Com isso, sou capaz de exercitar não só meu físico, expurgando toxinas através do suor, pondo em circulação sangue e prana (energia vital), ao desbravar cada poro com toda paciência e autocuidado. Minha espiritualidade, em sincronia absoluta, também favoravelmente se manifesta. A saudação Namastê nos ensina bem a reconhecer no próximo uma divindade, assim como nos assumimos deuses de igual maneira. É uma atividade para além da flexibilidade nas articulações, pois requer que aprendamos a articular os pensamentos de forma equilibrada, a domar nossos instintos, ao calarmos em meditação. É preciso estar atento a todas as coisas, concentrado em cada pormenor que a sensibilidade humana possa captar.
No começo, o esforço parece enorme. No decorrer, a entrega é compensadora. Disciplina e constância na execução dos movimentos, especialmente na contemplação interior, são imprescindíveis a quem deseja aprofundamento. Pessoalmente, nunca me dispus a realizar atividades físicas costumeiras pela sensação de perda de tempo, por não vislumbrar nenhum propósito em treinos repetitivos sem haver o menor estímulo intelectual. Como bem me recomendaram, a Yoga é um verdadeiro plano de saúde, por sua completude. Fiz a escolha certa, portanto, ainda mais pelo fato de me familiarizar a cada dia com partes pouco tocadas em meu corpo, por desafiar a gravidade através do domínio da mente e entoar mantras belíssimos, capazes de aflorar os sentimentos mais salutares. Tudo me soa artístico, leve, libertário... As histórias que envolvem os yogis de todos os tempos são extremamente ricas, tanto dos mestres milenares como dos meus contemporâneos. Fui devidamente apresentada à Hatha Yoga por um casal de amigos vindos da Índia. Durante o ano transformador que lá passavam, vivenciava aqui as minhas mudanças. Quando regressaram ao Brasil, matriculei-me de imediato na clínica em que iniciariam seus trabalhos, um pouco distante da minha casa, motivo pelo qual me instigou a associar bicicleta ao novo ritmo de vida. Uma benesse puxou a outra e assim tenho seguido, obstinada. A alimentação tem mudado, as bebidas alcoólicas perderam relevância, a postura se endireitou, os músculos se desenvolvem, os chacras se ativam e me sinto continuamente integrada à natureza, com a meta de evoluir sempre. Atualmente, a Lei da Atração trouxe as aulas de Yoga para um lindo espaço holístico próximo a mim, onde posso me envolver noutras atividades de expansão, como Reiki e Biodança, na companhia amorosa de espíritos construtores.
Gratidão a todos os envolvidos nesse processo. Todos sabem no íntimo quem deveras são, porque importam. O caminho é longo, porém, ao lado dos que me incentivam, não há pressa ou cansaço, só Paz e Alegria a cada descoberta. Envolta por seres de Luz, desvelo pouco a pouco a largueza do verdadeiro eu. Minha flor de lótus desabrocha em feminilidade, com suas raízes firmes e seu caule frondoso, passo a passo, nessa dança de Shiva que destrói antigas vestes para criar universos mais vívidos. Om Shanti!
SÂNSCRITO
ASATO MA SAT GAMAYA
TAMASO MA JYOTIR GAMAYA
MRITYOR MA AMRITAM GAMAYA
TRADUÇÃO
Conduza-me da mentira para a verdade
da escuridão para a luz
da morte para a imortalidade.