28 de fevereiro de 2014

AO SABOR DAS PALAVRAS

Foto de Paola Benevides.
Dos sabores que me sabem a boca, aprecio os que me sangram os lábios, no acre-doce escorreito da saliva. Vários: os de frutas vermelhas. Um prazer em cada gomo estourado aos dentes feito borrado de batom. Empapuçada até as sementes, engulo grão e talo. A não ser quando em solo fértil, à cata de galhos de framboesa, a correr à relva de se ser menina, à revelia da selva, cuspo todo o chão. Que me arda! Haveria de lançar da língua muitos pés de uva, amora, cereja e jabuticaba, sem demora, a namorar o plantio até a colheita, em meditação, dos primeiros ramos aos rumos da flora. Papilas gustativas e pupilas que dilato de predileção.

19 de fevereiro de 2014

VENENO


Ser flor que se cheire ou que se despetale?
Não mero detalhe, eis a delicada questão.

Sensibilidade aflorada contra mal-me-queres
Paixão no talo:
Espinhos

Não se ganham na lótus
Mas nascem do mesmo lodo
Inodoro
Da inoculação

12 de fevereiro de 2014

EXILADO



Parvo mundo.
Antes fosse um pássaro bicar curto pavio e revoar para longe. 

Árduo lugar... 
Uma nau a flutuar sobre lava. 

Um navio cargueiro à linha do horizonte
A confundir explosão solar com detonação de paiol.

Quando a munição acabar, não haverá mais farol
Nem luz, nem medo
Só o degredo a caminhar sozinho.

11 de fevereiro de 2014

DEBAIXO DA TERRA

Um oco ficou:

(Soco seguro 
                   bem no osso sacro)

- Chute no saco daquele escroto!
- Olho roxo naquela vagabunda!

Lixo até chorumou
Ficou uma funda...

Húmus desumano.


4 de fevereiro de 2014

MÁRTIRES DE VÊNUS


Somos frágeis fragmentos
A cortar nossas próprias cicatrizes
A contar histórias, nós mulheres
Atrizes de pernas arqueadas
A desfilar suas feridas felizes

Elas dão vida a carnes sangrentas
Bocas chamejantes que beijam a sorte
Meninas famintas da África em manadas
Sendo loiras, azuis, ruivas ou morenas

Unhas compridas desenham nas costas
Um suporte de penas para suas asas

1 de fevereiro de 2014

PENSA, MORDE E LADRA


Cérbero e seus cérebros: 
- Cuidado com o cão! 
Não lhe deixa sair do inferno, 
Este guardião maquiavélico, 
Quando a cólera se torna coleira da ação.