Nem chorar mais consigo, goela travada. Virei palhaça no teatro da vida. A lágrima que desce é a do Pierrot ao lado, desenhada em lápis preto por sua Inconstantina. Guizos no chapéu me acalmam feito sininhos da sorte. A fonte dos desejos secou? A lida não tem me deixado muito tempo. Realizarei o bastante antes da morte? Modéstia desligou a torneira do Inferno de Dante. Graças aos Deuses, tenho grandes amigos e sigo cativando novos intentos. Dos que se foram, alguns continuam sendo, encarnados ou não. Quanto aos mascarados, Ingenuidade desconhece, mas caladinha sabe um bocado essa madame Intuição. Solidão virou festa regada a outros caminhos. Há séculos desconheço o cheiro dos vinhos.
Tomo passe, bebo água fluidificada, engulo mantras e meditação. Daí, ontem aprendi a sorrir sem que achasse graça. Atuei, desinibi. Entrei tanto na personagem, que as pessoas não paravam de rir e pedir bis. Bisancène! Repeti na hora da foto. Não que eu leve jeito, mas o jeito me levou para a coisa, por uma nobre causa, feito Loto. Ganhei no sorteio de artesanar para uma casa lotada. Se eu ficasse parada, poluída, a lagoa venosa iria obstruir. Chega de pausa. Então, fui agir. Caiu bem meia-calça vermelha, descalça, short dourado, maquiagem de boneca, um vestido colorido discrepante com minha maneira de travestir. Lembrei que hoje é dia de São Cosme e Damião, talvez por isso tenha resgatado essa criança, pagando fiança para sair da cadeia da mesmice. Eu, meio Dorian, meio Alice no meio dessa multidão a me pregar peças tão felizes.