Por: Paola Benevides
Lembro-me vagamente de quando um colega zen de faculdade me revelou as suas cartas de tarô e me mostrou sobre o birô dos professores alguns caminhos pelos quais possivelmente eu poderia trilhar, por expansão individual ou divina ou por teimosia minha desafiando a trajetória cósmica. Ele me falou que eu iria passar por um período crítico no auge dos meus vinte e poucos anos, mas que depois de um tempo voltaria a ficar bem, estável, só não me recordo em que área, se amorosa, profissional ou no todo mesmo. Bom, o certo é que estou beirando os trinta e fugi de um provável casamento para experimentar um novo relacionamento e ainda não encontrei emprego fixo, muito provavelmente porque não tenha me esmerado na procura, aguardando minha satisfação se manifestar em grau mais elevado. Isto em razão da minha propensão às artes ser enfática, mesmo sabendo que me manter é preciso e ser artista neste país, quanto mais neste estado, faz-se árdua tarefa com pouca compensação financeira. Eu teria de ser um achado literário, plástico, performático e musical, ter reconhecimento ampliado. Às vezes acho que faço pouco, contudo olho para trás e vejo o meu rastro por aí, então me orgulho, nesse pedacinho de mundo que se perde entre o real, o virtual e o ficcionado. Abstraio sem me trair muito.
Atualmente, como graduada em Letras, faço trabalhos fortuitos em instituições de ensino na área de língua portuguesa, inglesa e literaturas, entretanto lucro mais como freelancer de revisão de textos, transcrição de áudio, vídeo e também tradução. Empenho-me na administração prazerosa de uma porção de blogues e redes sociais, além de me enveredar por vertentes as mais alternativas, como ter produzido um sarau em um bar cultural da cidade, ter pertencido a bandas de rock e com novas ideias musicais sempre moventes no cenário local. No momento, tenho me metido a mostrar a cara em curtas metragem, brincando de ser atriz no meio da turma do cinema na universidade. Falta-me apenas por o pezinho no teatro, para fechar o ciclo das artes e me tornar deveras multimídia. Sinto que isto não demorará tanto. Ainda pretendo expor minhas colagens e outros trabalhos gráficos afins, explorar novos meios. Tenho a mão boa. Alguém muito especial me falou um dia que sou meio Midas. Então prefiro enxergar-me assim, artesã nata do chapisco ao ouro. O que virá me provoca ansiedade, tenho dúzias de dúvidas, porém a maior certeza de que tudo valerá a pena reduz o desgaste. Almejo viagens e enriquecimento espiritual, acima do que for tangente e tangível. Não consigo me vislumbrar mãe, quero todo o tempo para gestar as minhas obras, mais tarde, quem sabe, ter um menino. Deus que me guarde e aguarde.