Graça a ligeireza, a borboleta é, no Japão, um emblema da mulher; mas duas borboletas figuram a felicidade conjugal. Ligeireza sutil: as borboletas são espíritos viajantes; sua presença anuncia uma visita ou a morte de uma pessoa próxima.
Um outro aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser; a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se se preferir, a saída do túmulo. Um simbolismo dessa ordem é utilizado no mito de Psique, que é representada com asas de borboleta. E também no de Yuan-k'o, o Imortal jardineiro, a quem a bela esposa ensina o segredo dos bichos-da-seda, e que talvez seja ela própria um bicho-da-seda.
Pode parecer paradoxal que a borboleta sirva, no mundo sino-vietnamita, para exprimir um voto de longevidade: essa assimilação resulta de uma homofobia, dois caracteres com a mesma pronúncia (t'ie) significando respectivamente, borboleta e idade avançada, septuagenário. Por outro lado, a borboleta às vezes associada ao crisântemo para simbolizar o outono(DURV, GUEM, KALL,OGRJ).
No Tochmarc Etaine ou Corte de Etain, conto irlandês do ciclo mitológico, a deusa, esposa do deus Mider e símbolo da soberania, é transformada em uma poça de água pela primeira esposa do deus, que é ciumenta. Mas dessa poça nasce, pouco tempo depois uma lagarta, que se transforma em uma magnífica borboleta, a qual o texto irlândes algumas vezes chama de mosca; mas o simbolismo é eminentemente favorável. Os deuses Mider e depois Engua a recolhem e protegem: E essa lagarta se torna em seguida uma mosca púrpura. Ela era do tamanho da cabeça de um homem, e era a mais bela que já houve no mundo. O som de sua voz e o bater de suas asas eram mais doces que as gaitas de fole, que as harpas e os cornos. Seus olhos brilhavam como pedras preciosas na obscuridade. seu odor e seu perfume faziam passar a fome e a sede a quem quer que estivesse cerca dela. As gotículas que ela lançava de suas asas curavam todo mal, toda doença, toda peste na casa daquele de quem ela se aproximava. O simbolismo é o da borboleta, o da alma liberta de seu invólucro carnal, como na simbologia cristã(CHAB,847-851), e transformada em benfeitora e bem-aventurada.
Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca do agonizante. Uma borboleta brincando entre as flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha (KRIR, 43). Os guerreiros moros acompanhavam o Sol na primeira metade de seu curso visível, até o meio-dia; em seguida, eles descem de volta à terra sob a forma de colibris ou de borboletas(KRIR,61).
Todas essas interpretações decorrem provavelmente da associação analógica da borboleta e da chama, do fato de suas cores e do bater de suas asas. Assim, o deus do fogo entre os astecas leva como emblema um peitoral chamado "Borboleta de Obsidiana". A Obsidiana, como o Silex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das facas de sacrifício. O sol, na Casa das Águias ou Templo dos Guerreiros, era figurado por uma imagem de borboleta.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos guerreiros, a borboleta é também para os mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundo subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim símbolo do fogo ctoniano oculto ligado à noção de sacrifício, de morte, de ressurreição. É então a borboleta de obsidiana, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Na glíptica asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo de número cinco, número do Centro do Mundo(SOUC).
Um apólogo dos balubas e dos luluas do Kasai (Zaire central) ilustra ao mesmo tempo a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem. O homem, dizem eles, segue, da vida à morte o ciclo da borboleta: ele é, na infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida em sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai sua lama que voa sob a forma de uma borboleta; a postura de ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação (FOVA). Do mesmo modo, a psicanálise moderna vê a borboleta como um símbolo de renascimento.
Uma crença popular na antiguidade greco-romana dava igualmente à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos de Pompéia, Psique, é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta (GRID). Essa crença é encontrada entre certas populações turcas da Ásia central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os defuntos podem aparecer na forma de uma mariposa(HARA, 254).