Que você tenha uma lua cheia em uma noite escura, palavras quentes em uma tarde fria e um caminho suave até a porta de sua casa!
Brinde Irlandês
Banal dizer que se é de lua, mas sinto dizer que sou de noite. E meio celta. Soa tudo melhor. A escuridão desvela receios, expõe sob a luz tremulosa das estrelas novas nuanças. Experimentei acampar certo crepúsculo em floresta serrana. Pacatuba, Aratanha, altaneiros 800m do Ceará. Fazia frio nem tanto, pelo suor da descida. É, caminhei por trilhas dantes escaladas. Os destroços de avião do empresário Édson Queiroz em ferrugens ainda na grama, áurea estranha pairava. Qualquer retorcer de galho era motivo para súbito susto, qualquer murmurar de ave rouca, gralha, coruja, fincava mistério feito as pegadas na terra úmida. Vento em árvore esdruxuleante pelo satélite natural entre as gretas das palmeiras. Senti esse pavor com masoquismo de dúvida, com algum mito da caverna resguardado comigo, com desejo quase selvagem de estar nua, entregue aos deuses pagãos dos ritos de iniciação a uma nova era em profundo. Um dia consultei um médium astropsicólogo que me sondou as outras vidas. As últimas encarnações foram passadas nas Bretanhas, o que explica meu calor alvoroçado pela gélida Irlanda, pela cultura e semeadura fértil de lá. Pretendo reconhecê-la mais tarde, em viagens pela Zooropa animal inconsciente. Coletiva que sou, purificada por anti-cepticismos, eu creio no destino traçado em cada folha de trevo no bem-me-quer arrancada. Boa sina, boa sorte ressoada em badalos de Gloria!