Meus sonhos de consumo se resumem na ânsia de viajar pelo mundo, conhecer culturas outras e subculturas, ir a concertos de Rock, adquirir mais livros, publicar minhas artes, gravar uns discos, ter tempo livre de sobra para criar. Mas meus sonhos que nada custam em monetariedades podem valer mais a pena, ao menos, fazer mais sentido. Prosseguir tecendo amigos, descobrindo mais o outro em mim, decepcionando com as verdades e revelando expansões de espírito. Porque as ligações entre vidas, embora tantas vezes dêem sinal de ocupadas, atendem chamadas. Quando quero falar com Deus, produzo. Sou a favor do trabalho intelectual abridor de portas existenciais, não da prisão escrava com seus mecanismos assalariados que mais suam que ganham bonanças. Abomino quem reza o verbo do dinheiro, quem preza a verba mais do que a palavra. Detesto o texto falso dos que não cumprem promessas, dos pagadores de impostos desumanos, dos devedores de generosidade. Competir compele o homem a ter medo de perder, como se a perda do jogo de máscaras fosse a própria perda de caráter. Ninguém se conhece senão através do outro, ninguém vem ao pai senão pelo filho. Respeito apenas as hierarquias da sapiência, de um ancião machucado a vagar pela rua sozinho, embora crianças saibam bem mais do universo que adultos, pois contemplam tudo com inocência veraz, capaz de dominar o fundo. Bons nadadores-meninos, herdeiros das técnicas de mergulho essencial dentro do útero de suas mães vindas do ovo cosmogonal. Ser é só o que pretendo, sem mais e sem final. Ciclotímida ante os maiorais e ciclomística entre os capitais de giro. A Terra não pára e, debaixo dela, alguma raiz cresce forte, une águas matadouras da sede da morte.