27 de maio de 2013

MUSA


























Se rainha ou deusa
Que ladainha cantarei sobre minha fortaleza?
Lápide sem lástimas tantas
Só uma anja de mármore
A entremear fósseis lembranças

Minha lourice laureada manca às vezes
Sou morena por dentro da casca
Dessas brancas de chupar o caju
Sem jogar fora o caroço

Sou o dorso da frigideira a dourar massa
A mascar grosso fumo e cuspir no molho
Miolo de pão eu dou, só não dou sopa
Vou ao vestuário para lavar louça
Pois boneca como eu dança em caixinha de música

Difusa quando infanta
Confusa adolescente
Mulher que reluz feito fada

Nem profana
Nem santa
Um pouco de ser cada
Mais um bocado de ter fama

20 de maio de 2013

REVELAÇÃO

A vida é uma ida com reviravolta. 
Nem verde, nem madura, mas esperançosa.
Uma rosa cheia de viços e vícios.
Um talo defumando espinhos na prateleira de incensos raros.
Uma meditação sem pensamento brusco.
Enquadramento na abstração da tela.
Painel etrusco.
Mostra até quando esconde. 
Encontra e aporta. 
Aponta e vegeta.
A vida é dada em Hare Krishnas e ramalhetes.
É rara, é Rama espalhada pelo chão.
E se derrama nos tapetes feito gato persa.
E se propaga através da última constelação encontrada
Num pacote de salgadinhos mal-cheirosos.
Terna consternação: saber-se eterna.
O brilho compensa a dor no dorso.
Adorno é corpo que pensa que sabe
Mas está morto.

7 de maio de 2013

MUDA


O silêncio me cala quando fala de si...
Se verbo não medrasse, haveria de sentir
o que ninguém assina em baixo

Só por ser um bento analfabeto,
cavalo batizado por água do mar
Pelos da égua a coicear o vento:

- O estar e o não estar -

Quando tudo se quer ausente
A mente insiste em registrar
O que a voz mudou

Vira-se o olhar para
parar a escrita
Repentinamente

5 de maio de 2013

DURA, DOURA

Anne Marie Zylberman

Quando minhas lágrimas se tornarem ouro em pó
Fechar-se-ão as torneiras por pura preciosidade
Meu interior, um cofre, sem sofrer nem dó sentir
Brilhará tal o pote com sorte no arco-íris sem fim

3 de maio de 2013

ESCULTURA


Mel escorre na face das bonitezas quando choram.
Ao relutarem dentro de si, quebram Michelângelos.
Pode haver gelo no que arde? Fogos de ardil, vício...
Goteja fácil o suor de quem luta às vistas do vizinho.
Os mais fracos só não carregam máscaras pelo peso.
Quem muito sustenta concreto armado perde a razão.
Sensibilidade é o siso dos estetas, a leveza do gesso.
Mas prefeririam bem ser atletas do riso em meia lua.
Pincelando, da relva à rua, com cagadas de pombo.
Dói o lombo do Aleijadinho essas estatuárias de hoje.
Homenagem póstuma não basta a espírito tão grande.
Quem sabe a autoria das falanges de anjos da igreja?
Lampeja o céu do pai e dos filhos no ato da criação.
O dedo encosta no milagre, bulinando em segredo:
Sublimação.